Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Qualquer que seja o novo presidente da República, 45 entidades quelutam pela reforma agrária já sabem o que esperam dele: um milhão denovas famílias assentadas nos próximos quatro anos, a construção de umapolítica nacional pela valorização dos pequenos produtores e a reduçãodos privilégios dados ao agronegócio.Essas são asprincipais metas a serem cobradas dos candidatos e foram estabelecidasdurante o Encontro Nacional dos Movimentos Sociais que Lutam pelaReforma Agrária. O evento terminou hoje (25) em Brasília. O documentofinal do encontro será entregue a todos os candidatos a presidente napróxima semana.Os movimentos pedem que o processo seja iniciadopelo assentamento das 230 mil famílias acampadas em todo país. Asreivindicações são associadas a outros temas, como combate à violência no campo eao trabalho escravo. Também está no documento a defesa da segurança alimentar - que é o abastecimento alimentar interno - e a crítica à abertura comercial presente nos acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC).Entre os 45movimentos que assinaram o documento estão a Confederação dosTrabalhadores na Agricultura (Contag) e o Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra (MST). O texto lembra que a violência no campo matou40 índios e 38 trabalhadores em 2005, segundo dados da ComissãoPastoral da Terra.“O governo vai precisar optar por quemodelo de desenvolvimento da agricultura quer para o país. A violênciahoje é oriunda do agronegócio e do modelo que temos”, diz AltacirBunde, da coordenação nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores(MPA), um dos participantes do evento. Segundo o documento, o atualmodelo de desenvolvimento agrícola promove o agronegócio e osinteresses de empresas transnacionais. Com isso, “perpetua a dominaçãoeconômica e política”.O comunicado afirma ainda que ospequenos agricultores são responsáveis pela produção e abastecimentointerno do Brasil com 31% da produção de arroz, 67% do feijão, 84% damandioca, 49% do milho, 40% de aves e ovos, 59% de suínos, 52% do leitee 32% da soja. “Esses índices se mantêm, apesar dos processos recentesde liberalização, abertura comercial, globalização e falta de políticaspúblicas”, destaca o texto.Os movimentos reivindicam aconstrução de uma política nacional pela valorização dos pequenosprodutores. “Primeiramente a reforma agrária e aí implementar programascom assistência técnica, aquisição de alimentos, educação no campo euma série de outras políticas que criem condições para viabilizar aprodução das pequenas propriedades, porque é ela quem emprega grandeparte da mão-de-obra e produz 80% da alimentação dos brasileiros”, dizAltacir Bunde.Ele explica, que nos últimos dez anos, a reformaagrária avançou no respeito à mobilização, mas não em um modeloeconômico e de desenvolvimento. “Tivemos, no passado, umacriminalização dos movimentos sociais, forte repressão e a consolidaçãode um modelo neoliberal no país. A relação com os movimentos sociaisteve avanços significativos. A violência no campo permanece, mas aviolência do Estado tem diminuído. Precisamos mudar o modelo depolítica econômica, reduzir a disponibilidade de recursos parafortalecimento do agronegócio”, avalia.