ELEIÇÕES 2006 - Fundado durante redemocratização, PT reuniu esquerda dispersa pelo regime militar

24/06/2006 - 9h03

Mylena Fiori e Patrícia Landim
Da Agência Brasil

Brasília - Fundado no dia 10 de fevereiro de 1980, em evento no Colégio Sion, em São Paulo, o Partido dos Trabalhadores reuniu grande parte da esquerda brasileira. O surgimento do partido era impulsionado, entre outros fatores, pela popularidade do movimento operário do ABC paulista, com as grandes greves de 1978 a 80, pelo retorno de diversos militantes de esquerda do exílio, com a Anistia, em 1979, e a ascensão do movimento de base da Igreja Católica, inspirado na Teologia da Libertação.

"Nosso berço foi o estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, onde aconteciam as assembléias do sindicato dos metalúrgicos do ABC", conta Hamilton Pereira, um dos fundadores do partido e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Luiz Inácio Lula da Silva liderava os metalúrgicos em suas greves, as primeiras grandes manifestações populares no país desde o fim dos anos 60. "São Bernardo funciona como o pavio que acende a pólvora que já estava distribuída pelos quatro cantos", resume Pereira.

Pereira conta que, no ato de fundação do partido, estavam representantes do movimento operário, intelectuais universitários, comunidades eclesiais de base e militantes da esquerda clandestina (muitos oriundos da luta armada). "A principal motivação, o que uniu aquelas pessoas, foi o desejo de interromper a ditadura militar", conta a deputada distrital Arlete Sampaio, outra fundadora do PT.

Na década de 80, o PT participou de todas as eleições, mas conquistou apenas algumas prefeituras e vagas no parlamento. "Ao longo dos primeiros dez anos, o PT é dito como partido da baderna, da reivindicação sem proposta, mas aos poucos assume posições institucionais no Brasil e mostra nos parlamentos, nas câmaras de vereadores, nas prefeituras, como é que o partido pensa o Brasil", conta Marlene da Rocha, secretária Nacional de Formação Política do PT.

A consolidação, no plano eleitoral, veio nos anos 90, após o impeachment de Fernando Collor. Em 1989, o alagoano derrotara Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das primeiras eleições presidenciais diretas do país desde os anos 60. "O que marcou a trajetória do PT: nos primeiros anos foi a luta pela redemocratização do país. Em seguida , a luta das Diretas Já. Depois, fizemos a luta pelo impeachment do Collor", rememora Arlete Sampaio.

O amplo movimento da opinião pública contra Collor, em virtude de denúncias de corrupção, elevou Lula à condição de favorito para sucedê-lo. A estabilização da inflação, com o Plano Real, em 1994, entretanto, construiu as bases para que Fernando Henrique Cardoso lhe impingisse sua segunda derrota em uma disputa presidencial. O PT, por sua vez, não parou de ampliar sua participação na administração pública e nos parlamentos.

Lula também perdeu para Fernando Henrique Cardoso, ainda no primeiro turno, em 1998, logo após ter sido aprovada a emenda constitucional que permitia a reeleição, em 1997. Foi em sua quarta disputa presidencial, em 2002, que o ex-líder operário conseguiu chegar à presidência, derrotando o tucano José Serra no segundo turno.

O programa do PT passou por diversas reformulações desde sua fundação. Isso fez com que, ao longo dos anos, grupos inicialmente aglutinados em torno do partido se afastassem da legenda. O PT se declara um partido que visa ao socialismo, por exemplo, mas a definição do conceito não é unânime entre as inúmeras correntes políticas internas. Uma coalizão conhecida como Campo Majoritário comanda atualmente o partido, tendo pouco mais de 50% dos votos no diretório nacional. Entre as correntes minoritárias mais conhecidas, estão a Democracia Socialista (DS) e Movimento PT.

Atualmente, o PT tem a segunda maior bancada do Congresso Nacional, atrás apenas do PMDB: são 81 deputados federais e 11 senadores. O partido também conta com 408 prefeitos e 3 governadores, e tem 823 mil filiados em todo o país, segundo dados do próprio diretório nacional.