Mais de 800 professores indígenas devem fazer vestibular no domingo

23/06/2006 - 12h48

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus - A expectativa da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) é de que 850 índios participem, no próximo domingo (25), do vestibular para o Curso de Licenciatura Plena para Professores Indígenas, cujas inscrições se encerram hoje (23). "Nosso levantamento mostra que há entre 400 e 500 professores ticuna que já terminaram o ensino médio", revelou a coordenadora do curso, Márcia Montenegro. "Mas temos também os candidatos de outras etnias".

O curso nasceu de uma parceria entre a UEA e a Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües (OGPTB). Ele vai atender 250 professores da mesorregião do Alto Solimões, na fronteira com o Peru e a Colômbia. Desses, 230 serão ticunas e 20 das outras etnias presentes na área (como cocama, cambeba e caixana).

"Esses povos conquistaram para seus filhos o ensino específico e diferenciado até a 4ª série. Mas quando passava dela, as crianças eram obrigadas a ir para uma educação regular, que nada tem a ver com sua cultura", explicou Montenegro. "Acontece que para trabalhar de 5ª série em diante, necessita-se de professores com nível superior. Agora, os ticuna estão querendo formar licenciados para trabalhar de 5ª à 8ª série e também o ensino médio".

O resultado do vestibular será divulgado no dia 10 de julho, e as aulas devem começar seis dias depois. Elas serão dadas em módulos, durante as férias escolares, porque todos os vestibulandos já estão lecionando nas aldeias. Serão oferecidas três habilitações: Estudo de Linguagem (que englobará português, a língua indígena, espanhol, literatura, artes e educação física); Ciências da Natureza e Matemática (biologia, física, química e matemática) e Ciências Humanas (história, geografia, antropologia, sociologia e filosofia).

Montenegro explicou que no domingo as provas serão iniciadas às 12h30, para que os candidatos tenham tempo de se deslocar das aldeias até às sedes de Benjamin Constant, São Paulo de Olivença e Santo Antônio do Içá. "Todos os candidatos responderão a questões dissertativas em língua portuguesa. E os ticuna farão também uma prova em língua indígena, uma redação a partir de uma imagem da cultura deles", contou. "Todos esses detalhes foram decididos em assembléia da OGPTB, pelas comunidades".

A OGPTB foi criada em 1986 e hoje reúne cerca de 500 professores. Segundo dados da própria entidade, existem no país cerca de 50 mil ticunas, concentrados às margens do Solimões e seus afluentes. Em 2004, havia no Alto Solimões 14,36 mil estudantes indígenas.

A Licenciatura Plena para Professores Indígenas é financiada com recursos do Programa de Apoio à Implantação e Desenvolvimento de Cursos de Licenciatura para Formação de Professores Indígenas (Prolind) do Ministério da Educação. O projeto foi selecionado no ano passado, no mesmo edital em que venceu também a iniciativa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) de elaborar uma proposta de educação superior para os professores Mura (que vivem no município de Autazes).