Alessandra Bastos
Enviada especial
Rubiataba (GO) – O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rubiataba, interior de Goiás, vai ser investigado pelo Ministério Público. Os trabalhadores denunciam que a entidade age em defesa dos interesses do empregador.
Um dos casos que levou à denúncia aconteceu com o cortador de cana Sousa Cruz Martins. Em abril deste ano, ele chegou à cidade para trabalhar alimentando as usinas de álcool. Logo adoeceu e precisou fazer uma operação. Martins conta que Tatá, o "gato" – homem que intermedia a vinda dos trabalhadores-, cobrou R$ 400 pela cirurgia.
Sem trabalhar, o cortador quer voltar para o Maranhão, seu estado natal. Para isso, primeiro terá que pagar os R$ 200 que Tatá cobrou pela passagem até Rubiataba, os R$ 400 da operação, a passagem de volta, os remédios e a comida que consome. Isso tudo sem poder trabalhar.
O presidente da Cooperativa Cooper Rubi (dona da usina), Onofre Andrade, discorda da versão apresentada pelo trabalhador. "Temos assistência médica ambulatorial, convênio com empresas privadas de saúde e sempre demos assistência ao nosso trabalhador e aos seus assistentes", diz.
Os funcionários contam outra versão. "O dono diz que dá assistência pra todo mundo, mas essa assistência eu não tive. Ele me disse que a usina não precisava de doente. Eu tinha todo direito, já que não me encaminharam para o INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], de ficar pagando meu atestado", afirma Nilton Costa Gomes.
Ele conta que, ao chegar em Rubiataba, o doutor o examinou e disse que tinha que fazer alguns exames. "E que esses exames eu teria que pagar conforme eu começasse a trabalhar. Aí deu que era apendicite. Aí eles disseram que eu teria que ficar parado até me recuperar".
O presidente da cooperativa diz que o caso é um exemplo positivo. "Todos passaram por exames médicos, tanto é que soube hoje que um desses trabalhadores foi vetado para o exercício do trabalho. Isso significa que o nosso quadro de medicina do trabalho é sério, correto e exigente".
Sem acesso à assistência médica, aos direitos trabalhistas e sem emprego, Nilton sobrevive hoje com a ajuda dos amigos. "Pela manhã, procuro algum vizinho ou amigo que me convida pra almoçar. Quando é de tarde, meus colegas pegam R$ 1 cada um e eu compro uma marmitex."
Os trabalhadores dizem que o caso foi levado ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rubiataba, mas que o órgão é parceira da usina. "Eles foram para um escritório, conversaram e o Sindicato me falou que a minha situação era essa mesma", diz Nilton Gomes.