Cortadores de Goiás vieram do Maranhão em abril e ainda devem a passagem

09/06/2006 - 6h13

Alessandra Bastos
Enviada especial

Rubiataba (GO) – Boa parte dos 700 cortadores de cana de Rubiataba veio do Maranhão há dois meses, deixando a família no estado. A cana é usada para alimentar a usina de álcool administrada pela cooperativa Cooper Rubi. Ainda hoje, muitos funcionários devem a passagem de ida para Goiás, cujos preços variaram de R$ 170 a R$ 200.

O presidente da cooperativa, Onofre Andrade, não se responsabiliza pela vinda dos maranhenses. Ele conta que foram os trabalhadores quem o procuraram ao saber que a usina precisava de mão-de-obra. "Não mandamos trazer. Essa conversa nunca existiu. Nunca me ocorreu procurar, porque não me interessava".

Quem os trouxe foi um homem conhecido por eles apenas como Tatá e identificado como sendo Gaspar Marinho. O "gato", como chamam a pessoa que intermedia a negociação, está desaparecido. Os moradores contam que assim que foi avisado da chegada de policiais federais em Rubiatuba, ele se escondeu. Também acusam Antonio Barbosa Ferreira de ser sócio e cúmplice de Marinho.

Para que trabalhadores de uma cidade sejam levados à outra, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Lei 5452/1943, exige que a Carteira de Trabalho e o contrato sejam assinados ainda no local de origem, que os trabalhadores tenham garantia de ida e volta e que os sindicatos das duas cidades estejam cientes da saída dos trabalhadores. É preciso ainda permissão da Delegacia Regional do Trabalho dada por meio da "Certidão Liberatória dos Trabalhadores".

A alimentação dos trabalhadores também é irregular. O salário é pago a cada quinzena. Eles denunciam que recebem o dinheiro com R$ 105 descontados para pagar o almoço e o jantar. "A comida é muito cara. Eles falam que a usina paga metade. Então o que a gente paga é muito", afirma o trabalhador Nilton Costa Gomes.

O presidente da Cooper Rubi nega. "Isto é mentira. Eles pagam, me parece, R$ 1,75 por refeição. Como não é a nossa cooperativa que fornece a alimentação, não posso dizer exatamente quanto custa". Andrade conta que quem fornece a comida e faz o desconto é Marinho, e que o salário é depositado diretamente na conta dele.