Brasília, 6/6/2006 (Agência Brasil - ABr) - As negociações em torno de regras mais justas no comércio internacional podem ganhar novo impulso em uma cúpula ministerial, ainda em junho. A possibilidade de tal reunião foi tratada hoje (6) pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em conversa por telefone com o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy.
Segundo a Secretaria de Imprensa do Itamaraty, Amorim e Lamy trocaram impressões sobre as negociações da atual rodada de negociações – a Rodada de Doha, lançada em 2001 com a ambição de proporcionar desenvolvimento às nações pobres e em desenvolvimento.
A conversa, de acordo com o Itamaraty, ocorreu em um "contexto de consultas periódicas". O Brasil integra o grupo de países que lideram as negociações em Agricultura (área considerada "o motor" da atual rodada), ao lado da Índia, União Européia, Estados Unidos e Austrália. Brasil e Índia são também porta-vozes do G20 – grupo de países em desenvolvimento com demandas comuns na área agrícola.
Pelo calendário oficial da OMC, cúpulas ministeriais são realizadas a cada dois anos – a última foi em dezembro passado, em Hong Kong, na China. No dia-a-dia de negociações, quem participa são os negociadores indicados pelos 150 países integrantes da OMC. Os ministros, no entanto, podem marcar reuniões extraordinárias, caso considerem necessário.
Havia expectativa de uma reunião ministerial no fim de abril, mas Lamy decidiu não convocar os chanceleres, pois não foi possível avançar no documento das chamadas modalidades até 30 de abril, como estabelecido durante a Cúpula de Hong Kong: No caso da agricultura, tema que atualmente emperra as negociações, as modalidades incluem definições sobre fórmula de redução tarifária, abrangência das listas de produtos considerados sensíveis, funcionamento de salvaguardas. As modalidades deveriam ter sido estabelecidas até o início de 2003. Na época, Lamy reconheceu o fracasso e pediu aceleração nas negociações.
Ontem (5), em discurso durante o 12º Fórum Econômico Internacional das Américas, em Montreal, no Canadá, o diretor da OMC disse que as negociações são difíceis porque, em todas as esferas, a atual rodada é "mais profunda, mais extensa e mais justa" que as anteriores. "Isso exigirá coragem política para superar as diferenças que ainda existem entre os atores-chave", afirmou Lamy. Ele reconheceu, no entanto, que é consenso o fato de que os países em desenvolvimento terão que fazer menos que as nações deesenvolviodas.
As negociações da rodada de Doha não estão avançando como o esperado pelo descompasso de interesses: exportadores agrícolas, como o Brasil, têm interesse em acesso a mercados e eliminação do apoio concedido por europeus e americanos aos seus produtores. Europa e Estados Unidos não querem ceder nesses dois pontos e pedem abertura do setor de serviços e redução de tarifas para bens industriais nos países em desenvolvimento