Ex-ministro diz que entrada da Venezuela não inviabilizaria acordo no Mercosul

06/06/2006 - 16h43

Rio, 6/6/2006 (Agência Brasil - ABr) - O ex-ministro das Relações Exteriores, embaixador Luiz Felipe Lampreia, analisou hoje (6), no encerramento da convenção anual das Câmaras de Comércio Americanas da América Latina, que o ingresso da Venezuela no Mercosul daria uma conotação mais política do que econômica ao bloco, mas isso não chegaria a inviabilizar o acordo.

"O Mercosul não pretende ser, antes de mais nada, um bloco político e, muito menos, anti-americano", declarou Lampreia. O ex-ministro afirmou, porém, que a entrada da Venezuela como membro pleno, se tiver essa conotação, poderá enfraquecer o Mercosul. E manifestou sua preocupação diante da tendência do presidente venezuelano, Hugo Chavez, de imprimir ao bloco uma conotação mais política, com um sentido de estabelecer um "muro de contenção da influência americana na América do Sul".

Essa tendência, analisou, pode deturpar a finalidade do Tratado do Cone Sul, cujos sócios iniciais são o Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. Lampreia disse acreditar que, ao contrário, o bloco deve mostrar uma maior coesão. A transformação do Mercosul em um bloco político "é um rumo que deve ser evitado", indicou.

Para o vice-presidente da República, José Alencar, que participou do encerramento do encontro, o objetivo do bloco do Cone Sul era que todos os países participassem do processo. "A Venezuela é um deles", disse, destacando que seria ideal se o acordo pudesse ser estendido a todos os países latino-americanos.

Ele concordou, no entanto, com o ex-ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, no sentido de que a entrada da Venezuela daria um cunho mais político ao Mercosul. "Sim, pode ser", admitiu, ressalvando que "a força hoje dos elevados interesses suplanta isso". Na opinião de Alencar, "essas questões são transitórias, todos os países podem ter posicionamentos transitórios, é assim mesmo. Assim como a economia evolui, a política evolui ainda mais, muda a todo momento".

Sobre a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), José Alencar disse nunca ter sido contrário, desde que ela seja como o nome sugere, "porque isso favorece o Brasil". E analisou que "o Brasil produz muito mais economicamente do que os Estados Unidos e o Canadá" e não precisa ter medo de globalização. "Nós temos que ter medo é de nós", disse.