Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – As comemorações do Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes incluíram hoje (18) o lançamento do Marco Teórico e Referencial da Saúde Sexual e Reprodutiva dessa população. O documento, do Ministério da Saúde, pretende orientar os profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) a lidar com pacientes vítimas de abuso sexual.
Inicialmente, os profissionais serão capacitados para perceber os indícios de violência sexual e maus-tratos vivenciados pelos jovens. Os trabalhadores também vão ser orientados para respeitar a individualidade e a privacidade dos pacientes.
Segundo a coordenadora do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (Cecria), Neide Castanha, o medo e a vergonha, em muitos casos, impedem que o abuso sexual seja denunciado às autoridades competentes.
"Ainda temos uma cultura da vergonha e do medo, e só quem vai livrar essa vergonha e medo é a sociedade. Hoje eu compreendo uma criança ou uma mãe que tem uma situação de violência sexual e que para se preservar não denuncia. Porque ao denunciar ainda temos uma sociedade que diz: olha só como ela quem seduziu, veja como a mãe não cuidou, olha a falta de vergonha na cara, quem mandou andar as calcinhas de fora, então porque eu vou denunciar e virar o vilão da história?", explica Neide Castanha.
A educadora Miriam Morga trabalha na escola Promoção Educativa do Menor (Proem), da rede de ensino do Distrito Federal, que atende jovens entre 11 e 18 anos em situação de risco social e pessoal. "Uma vez uma mãe chegou para mim e disse: minha filha fica no meio fio me esperando chegar do trabalho porque senão o meu marido abusa sexualmente dela. Isso acontece em classes pobres e ricas". Miriam avalia que é preciso haver prevenção, esclarecimento e desmistificação do abuso sexual. "É preciso perder a culpa e desmistificar o medo."
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que uma em cada três meninas no Brasil sofre algum tipo de agressão sexual. Já as estatísticas do Disque-Denúncia, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), apontam que a cada oito minutos uma criança é vítima de abuso sexual no Brasil. Por ano, são registrados cerca de 60 mil casos, sendo 80% das vítimas meninas entre dois e 10 anos de idade.
Segundo a SEDH, a violência sexual em crianças e adolescentes pode ocorrer nas formas do abuso sexual e da exploração sexual para fins comerciais, como a prostituição, o turismo, a pornografia e o tráfico. Quando são agredidos, os jovens geralmente mudam de comportamento e costumam apresentar falta de apetite e sintomas de depressão.