Número de jovens assassinados quase duplicou em 20 anos, diz antropóloga

18/05/2006 - 19h18

Aline Beckstein
Repórter da Agência Brasil

Rio - O número de jovens assassinados no Brasil quase que duplicou em praticamente 20 anos, segundo a antropóloga Alba Zaluar. Ela disse que, entre 1980 e 2002, os homicídios passaram de 30 por 100 mil jovens para quase 55 por 100 mil. Desse número, 93% corresponde ao sexo masculino e apenas 7% ao feminino.

De acordo com a antropóloga, esse índice mostra que a situação brasileira não poderia ser comparada com a de uma guerra civil, embora possa apresentar números de mortes semelhantes. "Numa guerra civil morrem tanto homens como mulheres, tanto crianças como idosos", disse. Para ela, o que existe é uma guerra privada. "Aqui não há uma guerra entre grupos ou etnias, mais sim entre quadrilhas rivais e entre elas e as forças policias".

O incentivo à entrada dos jovens no crime, especialmente o tráfico de drogas e armas, também deveria ser observado, defende Zaluar, levando em consideração não apenas o ganho em dinheiro, motivado pelas baixas condições financeiras. "O índice de desenvolvimento humano das grandes favelas é mais alto de que muitas cidades do nordeste, que têm índices de violência inferiores, excluindo o Recife", disse a antropóloga.

Segundo ela, os ambientes vulneráveis em que vivem os jovens seriam fatores determinantes. "Vários estudos mostram que viver em áreas de alto risco pode ser um fator determinante. Muitos adolescentes também acabam pegando em armas ao verem outros adolescentes portando armas. Eles têm a falsa sensação de segurança e até de afirmação da masculinidade", argumentou.

Alba Zaluar participou, hoje, do último dia do Fórum Nacional "Por que o Brasil não é um país de alto crescimento, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos.