Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Cerca de 170 deputados estaduais de 23 estados assistiram hoje (18) à palestra em que o general aposentado Cláudio Figueiredo, ex-comandante militar da Amazônia, defendeu idéias polêmicas sobre como garantir a soberania do Brasil sobre a maior floresta tropical do mundo. Os parlamentares participam da 10ª Conferência Nacional de Legislativos Estaduais, para a qual apenas Alagoas, Amapá e Paraíba não mandaram representantes.
Figueiredo afirmou que os países ricos, especialmente os Estados Unidos, esforçam-se para mostrar que o Brasil não tem competência para gerir seus recursos naturais, porque estão interessados em controlar o território amazônico. "Na verdade, a soja está no Mato Grosso e no arco do desmatamento, onde há cerrado e florestas de transição ( que o general opôs à floresta tropical úmida, a vegetação amazônica por excelência )", sustentou. E acrescentou: "Os norte-americanos estudam estratégia 24 horas por dia, 365 dias por ano. Eles sabem que a Amazônia é essencial, do ponto de vista geopolítico, para ações militares na América do Sul".
Na opinião do general aposentado, é pequena a possibilidade de invasão militar norte-americana no território brasileiro, mas ela não deve ser descartada: "Acredito que a internacionalização acontecerá de forma indireta, pela ausência de Estado. O vazio de poder não existe. Por isso, o espaço do governo é preenchido por organizações não-governamentais e por organizações estrangeiras".
Entre as declarações do general que teriam provocado protestos de ambientalistas e movimentos sociais está a de que a região é um vazio demográfico, de que há muita terra para pouco índio, os quais deveriam ser obrigados a prestar serviço militar. "A maior parte dos índios daqui já é civilizada. E eles se tornam excelentes cabos e soldados, porque conhecem bem a floresta", disse.
No encontro, a geógrafa Bertha Becker lembrou que a Amazônia não é a mesma da década de 60: "Aqui não é um vazio demográfico. Há 20 milhões de habitantes, dos quais 70% estão concentrados em núcleos urbanos. A soberania tem a face externa e a interna. Não gosto de falar isso porque parece bandeira, mas a inclusão social merece mais atenção. A população daqui tem demandas sofisticadas, quer educação, saúde, assessoria técnica e científica".
Becker lembrou que as organizações não-governamentais e a cooperação internacional se firmaram como atores importantes na Amazônia, especialmente na década de 90. E esclareceu que a cultura da soja está se expandindo também sobre áreas de floresta primária, em especial ao longo da rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163). "Não uso o termo arco do desflorestamento. Prefiro chamá-lo de arco do povoamento consolidado", acrescentou.
O secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Virgílio Viana, criticou o enfoque dado, no debate, à discussão da internacionalização da Amazônia. "Ao invés de nos preocuparmos com a atuação dos estrangeiros – que muitas vezes é condenável, outras vezes não –, devemos dar mais atenção ao fato de não enxergarmos o potencial econômico da floresta, as necessidades da região", opinou.
O general Figueiredo visitou a Amazônia pela primeira vez em 1968, ao lado do então presidente Costa e Silva, de quem foi ajudante de ordens. Ele coordenou o patrulhamento da fronteira amazônica em 1981 e 1982. Entre janeiro de 2003 e o início deste ano, ocupou o posto máximo do Comando Militar da Amazônia, até a aposentadoria.