Isabela Vieira
Da Agência Brasil
Brasília – A construção de hidrelétricas no Rio Madeira, em Rondônia, pode afetar toda a Bacia Amazônica, alertam ativistas reunidos em Porto Velho em encontro de ONGs e movimentos sociais de todo o Brasil. "As represas que estão previstas atingem o conjunto da Bacia do Rio Madeira, o maior afluente do rio Amazonas", diz Luiz Fernando Novôa, representante da Rede Brasileira de Integração dos Povos (Rebrip). "Ou seja, o Rio Amazonas está em risco também. Os seus delicados equilíbrios colocados há milhares de anos podem ser abruptamente destruídos."
Em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia, Novôa disse que estudos de especialistas que estão sendo analisados pelos movimentos sociais apontam que o alagamento de grandes áreas na região causaria impactos violentos na floresta e desequilibraria todo o ecossistema amazônico, além de atingir os habitantes que vivem dos recursos da floresta.
O projeto de um complexo de hidrelétricas no Madeira está aguardando licenciamento ambiental para ser leiloado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Novôa também afirma que projetos como o das hidrelétricas, ou de uma hidrovia no Madeira, para o escoamento de grãos, como é discutido na região, vão na contramão da proposta de criar um modelo alternativo de desenvolvimento para a região.
Nesse sentido, Novôa lembra que, com a atual discussão sobre o incentivo à produção brasileira de energia alternativa baseada na biomassa (álcool e biodiesel), a monocultura extensiva de cana ou oleaginosas para biodiesel pode suceder o atual surto de expansão da soja na Amazônia, perpetuando os problemas causados pela monocultura na região.
"O problema é que essa prioridade [produção de biocombustíveis] não pode destruir outras prioridades, como, por exemplo, criar um desenvolvimento alternativo para a Amazônia, como por exemplo, garantir terra, justiça social, direitos aos povos que vivem nessas regiões", diz ele. "A prioridade de produção agrícola para exportação tem que ser ponderada com outras prioridades nacionais."
De acordo com Novôa, a desintegração cultural e política da Amazônia potencializa o problema. Segundo Novôa, o fato de o Brasil ter um território tão extenso e de a Amazônia ainda ser considerada uma área de fronteira dificulta o processo de integração nacional e dá pouca visibilidade ao que acontece na região.
A Rebrip, articulação de movimentos sociais que busca a discussão de temas ligados ao processo de globalização, além de diversas outras organizações não governamentais e movimentos sociais realizam até amanhã (6) uma reunião na capital de Rondônia para discutir o projeto do complexo do Rio Madeira. Do encontro, deve resultar um documento, a Carta de Porto Velho, pedindo ao governo que abra diálogo com representantes da sociedade sobre o projeto das hidrelétricas.