Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Os funcionários que atuam como monitores da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor de São Paulo (Febem-SP) tendem a viver um conflito constante entre educar e conter os adolescentes, acredita Tereza Luiza Ferreira dos Santos, coordenadora de Abordagem em Pesquisa Qualitativa da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro).
A entidade, ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego, foi uma das responsáveis pelo levantamento pesquisa "O trabalho dos monitores na Febem". "O próprio monitor revela que a Febem-SP nunca definiu nem esclareceu qual era o seu papel", disse a coordenadora, que participou da elaboração da pesquisa.
Segundo ela, são fatores "agravantes" para a situação do funcionário a jornada de trabalho de 12 horas e o salário "insuficiente", além da baixa capacitação dos monitores para as tarefas que têm a realizar.
De acordo com o estudo, atualmente, o período de capacitação para os novos funcionários é de um mês. Na avaliação de Santos, isso faz com que a capacitação acabe por ocorrer no dia-a-dia, baseada na convivência com outros monitores. "A tarefa do monitor é proteger o menino e, ao mesmo tempo, não deixar que ele ultrapasse certos limites. Isso em uma condição de trabalho que não é adequada, com falta de material e de uma proposta pedagógica adequada aos meninos que estão ali", observou.
A partir do estudo, a Fundacentro elaborou propostas que foram apresentadas na última segunda-feira (24) à direção da Febem-SP, durante seminário paralelo ao lançamento do relatório. Entre as sugestões, estão: mudanças na jornada de trabalho; melhor definição do papel do monitor; de planejamento das atividades; valorização do trabalho em conjunto; seleção e treinamento mais extenso para os monitores; orientação sobre como lidar com as situações de rebelião; e a prevenção aos problemas psicoemocionais, com a presença constante de terapeutas à disposição dos funcionários.
"É preciso, ainda, diminuir o número de internos em cada unidade e aumentar o número de monitores. Além disso, a proposta pedagógica aplicada aos meninos deveria ser usada como estratégia de segurança aos monitores, porque se os meninos pudessem se manter ocupados, pensando em algo que estivesse em seu universo para haver um crescimento e uma recuperação, de fato isso melhoraria todas as condições", acrescentou Santos.
Como primeiro passo, ela disse que a Fundacentro sugeriu reunir pessoas que falem sobre os problemas da entidade com uma visão mais completa para discussão de todas as questões.