Febem-SP não utiliza conhecimento dos monitores para evitar rebeliões, diz relatório

26/04/2006 - 12h45

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O relatório "O trabalho dos monitores na Febem", define as rebeliões dos internos como "uma das situações limítrofes com a qual o monitor é obrigado a lidar". Segundo o texto, é "uma condição de risco extremo: de serem feitos reféns, de agressões violentas e mortes".

A pesquisa avalia que a direção das unidades não aproveita a experiência adquirida pelos monitores, que aprendem a identificar sinais prévios às rebeliões, e destaca que a dificuldade de relacionamento entre adultos e adolescentes se agrava em jovens já infratores e internados.

De acordo com o documento, a rebelião é um caso de situação extrema, quando os jovens decidem "virar a casa, tomar o controle, desorganizar, destruir, queimar, extrapolar todas as barreiras mesmo que o preço seja a própria vida". Nesse sentido, o documento aponta que a rebelião surge como representação de "um momento em que há um rompimento das tensões na unidade, quando não se consegue oferecer um canal de escoamento para as tensões vivenciadas no cotidiano".

Apesar da desorganização e destruição, o levantamento mostra que, em geral, a rebelião tem objetivos definidos: "rebeliões são organizadas para disputa de grupos rivais, para agredir os funcionários, em geral bem definidos anteriormente, para dominar a casa ou para fugir".

Ainda segundo o relatório, as rebeliões ocorrem nos finais de semana (após a visita de familiares e principalmente quando não houve visita), na hora das refeições, quando há poucos funcionários no plantão, e em casos de "tumulto". Entre os indícios descritos, estão os menores começarem a usar "toucas ninja " (capuzes feitos com a camiseta), ficar cochichando em grupos, cantar em grupo para dissimular o ruído da confecção de armas brancas e bater nas grades. Este último comportamento, de rebelião já iminente, é descrito por um funcionário: "É assustador, nossa é terrível. Começam a fazer todos ao mesmo tempo... O funcionário, Nossa Senhora... Ele já fala: Virgem, é rebelião".

Para evitar rebeliões iminentes, a pesquisa mostra que os monitores se valem de muitos recursos, dos quais o mais extremo é formar um pequeno grupo de choque próprio, chamado de "choquinho".