Thaís Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio – A relação entre mídia e democracia foi discutida hoje (26) durante um Seminário promovido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante o encontro, que acontece até sexta-feira (28), vai debater questões que envolvem o papel da imprensa.
Durante a palestra inicial, o ex-ministro José Dirceu, cassado sob a acusação de participar do esquema de compra de votos de parlamentares, criticou a atuação da imprensa brasileira em assuntos que se referem ao governo. Segundo ele, só no período da ditadura, houve casos semelhantes.
"Eu acredito que só no período do Doi-Codi (Centro de Operações de Defesa Interna) a imprensa brasileira desceu tanto como está descendo hoje nesse momento na vida política do país. Porque a imprensa brasileira apoiou a repressão, a tortura, o assassinato e encobriu as ações dos órgãos brasileiros de repressão", afirmou Dirceu.
Além do ex-ministro, também participou do seminário o ex-secretário de imprensa da Presidência da República, Ricardo Kotscho. Para ele, a população vem desenvolvendo sua própria opinião e já não é tão suscetível às ações da mídia no Brasil. "A imprensa já não é capaz de eleger ou derrubar governantes", afirmou. Kotscho também criticou a permanência das mesmas pessoas como alvo da imprensa. "Talvez fosse o caso de se cortar os telefones e a internet das redações. Repórter precisa ir para a rua para descobrir e contar a história de brasileiros que não estão na mídia", defendeu.
Outro palestrante, o jornalista Para Paulo Henrique Amorim, criticou a pequena concorrência existente na TV brasileira, setor em que a Rede Globo exerce hegemonia. Segundo ele, os números da publicidade demonstram isso. "A Rede Globo absorve 60% de toda a indústria publicitária. A cada real investido em publicidade no Brasil, 42 centavos vão para a Rede Globo", disse.
O ex-ministro criticou, ainda, a postura da sociedade e da mídia ao rebater a criação do Conselho Federal de Jornalismo. Segundo ele, a tentativa de formar o órgão foi vista como autoritarismo do governo. "Conselhos como esse existem em vários países, mas aqui virou uma campanha sem precedentes contra o governo. Como um governo pode ser autoritário se ele não tem maioria na Câmara nem no Senado, é investigado por CPIs, pelo Tribunal de Contas, pelo Ministério Público. Nenhum governo nunca foi tão devassado", disse ele.