Eldorado dos Carajás mostrou que excluídos são problema social e não policial, diz professor

17/04/2006 - 11h57

Priscilla Mazenotti e Alessandra Bastos
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O professor do núcleo de estudos agrários da Universidade de Brasília, Flávio Botelho, disse que a lição mais importante que pode ser aprendida com o Massacre de Eldorado dos Carajás (PA) é que o governo deve tratar os movimentos excluídos como um problema social e não policial.

"O governo e a sociedade devem tratar os atores e os movimentos que são excluídos da sociedade de uma forma não-policial. Eles são atores, estão lutando para sobreviver na sociedade e muitas vezes, como eles não eram organizados antes, eram tratados simplesmente de uma forma policial. Um problema que é social era tratado de uma forma policial", disse em entrevista à Rádio Nacional.

O professor destacou que se a mudança de atitude não for feita, novos conflitos serão inevitáveis. "É inevitável que numa sociedade desigual como a nossa, onde as pessoas têm de lutar de diversas formas pela sobrevivência, você tenha enfrentamentos violentos", disse.

"Acredito que vai ser inevitável a violência no Brasil na medida em que você queira diminuir a desigualdade social porque não existe a possibilidade de diminuir a desigualdade social sem que as pessoas que estão numa situação desfavorável lutem pelos seus problemas, lutem para se tornarem sujeitos e ganharem o status de atores políticos na nossa sociedade", acrescentou.

Hoje (17) faz dez anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, quando 19 trabalhadores sem terra foram mortos e 69 foram feridos num confronto com a Polícia Militar.