Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus – O governo do Amazonas decretou estado de calamidade pública em três municípios do sul do estado, por causa da cheia antecipada do Rio Madeira (que costuma acontecer apenas no fim de abril). Em Humaitá, Manicoré e Pauini, segundo dados da Defesa Civil Estadual, 2 mil famílias que vivem em 190 comunidades localizadas na beira de lagos e igarapés estão enfrentando escassez de alimentos.
O coordenador da Defesa Civil Municipal de Manicoré, sargento Alzimar Bezerra, informou à Radiobrás que hoje (3) dois barcos estão entregando 590 cestas básicas nas comunidades mais atingidas. "Ao todo, são 1.400 famílias afetadas pela cheia, na nossa zona rural. As plantações de banana delas foram alagadas, a macaxeira também foi para debaixo d’água", contou. "O problema está mesmo na zona rural. Há comunidades que ficam a meia hora da sede, de barco. Mas em outras a viagem demora pelo menos 18 horas."
Os moradores da várzea [terras que passam metade do ano alagadas] têm um modo de vida adaptado ao ciclo anual da enchente-vazante: quando há seca, eles plantam nas terras alagáveis, mais férteis; quando o rio sobe, transferem a criação de animais e o roçado para a chamada terra firme. O problema surge quando as águas sobem tanto que o rio passa a ser o único quintal – e surge o risco de que a estratégia de subir o chão da casa [palafita] não seja suficiente para salvar a moradia da inundação.
O supervisor de hidrologia do Serviço Geológico do Brasil (antiga Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais, ainda conhecido pela sigla de CPRM), Daniel Oliveira, informou que apenas em Manicoré o Rio Madeira está quatro centímetros acima da sua cota de emergência, que é de 25,59 metros. "No dia 25 de março, o nível era de 25,65 metros, o maior do ano. No dia 29 [o dado mais atual], as águas estavam em 25,63 metros", detalhou. "Ele está baixando, mas pode voltar a encher. Em Porto Velho [capital de Rondônia, mais próxima à cabeceira do rio Madeira], as águas desceram e agora estão subindo de novo [em ritmo cada vez mais lento]".
A CPRM monitora o nível dos rios da Bacia Amazônica desde a década de 60. Oliveira ponderou que a cota de emergência do Madeira não reflete necessariamente a realidade verificada pela Defesa Civil. "A gente trabalha com médias históricas. Sabemos, por exemplo, que a maior enchente de Manicoré [fenômeno que ocorre desde 1967] aconteceu em 1997, quando o Madeira atingiu 27,26 metros", afirmou. "Mas os bombeiros trabalham com a situação atual, com dados de campo."
De acordo com uma nota divulgada pela Agência de Comunicação do governo do Amazonas, três municípios estão em estado de emergência (Boca do Acre, Lábrea e Borba, também na região sul do estado) e dois, em estado de alerta (Tabatinga e Benjamin Constant, no Alto Solimões). Na semana passada, o governador Eduardo Braga assinou um convênio com as prefeituras dos três municípios em estado de calamidade pública (Humaitá, Manicoré e Pauini), repassando a eles um total de R$ 250 mil – para compra de medicamentos, alimentos e combustível.