Participantes da COP-8 são vaiados por Via Campesina

30/03/2006 - 13h47

Thaís Brianezi
Enviada especial da Radiobrás

Pinhais (PR) - Os ônibus que transportavam os 3,6 mil delegados à 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8) foram recebidos hoje (30) com vaias de aproximadamente 500 manifestantes da Via Campesina (aliança internacional de luta pela reforma agrária, da qual o Movimento dos Sem Terra faz Parte).

"Estamos aqui para mostrar que não queremos árvores transgênicas ( geneticamente modificadas, em laboratório ). São tecnologias das quais não necessitamos", declarou um dos coordenadores da Via Campesina, Cledecir Zucchi.

Hoje, os dois grupos de trabalho da COP-8 revisam os temas discutidos nos últimos oito dias, para levantar as decisões preliminares (questões sobre as quais se chegou a consenso). São apenas esses pontos já pré-acordados que devem ser submetidos à aprovação da plenária final, amanhã (31).

De acordo com o coordenador da Campanha de Florestas da organização não-governamental Greenpeace, Christoph Thies, o Grupo de Trabalhou I avaliou o pedido de moratória global para monocultura de árvores transgênicas. "A maior parte dos países concordaram com ela, mas só hoje é que ficará claro se há ou não consenso", explicou.

A Via Campesina acredita que as árvores transgênicas provocarão os mesmos danos que a monocultura de árvores como pinus, eucalipto e acácia. "Os pinus geram um deserto verde, nem cobra sobrevive embaixo deles. A palha que cai não é decomposta pelos microorganismos que vivem no nosso solo", afirmou Zucchi.

O agricultor catarinense Dilvo Baldinarelli, que participava do protesto, contou que estava lá para impedir que houvesse retrocesso na decisão de proibir sementes estéreis ( terminators , sementes transgênicas que utilizam as chamadas tecnologias de restrição de uso – ou GURTs, na sigla em inglês, como são mais conhecidas).

Na última sexta-feira (24), o grupo de trabalho da COP-8 já havia chegado à decisão preliminar de manter a proibição absoluta (estabelecida desde 2000) para pesquisas de campo com tecnologia GURTs - mas formalmente nada impede que ela seja questionada amanhã, na plenária final.

"A gente não acredita que haja rediscussão desse ponto. A posição brasileira com relação às terminators foi bem firme, o que deve influenciar os outros países", assegurou Zucchi.