Índios temem reação de fazendeiros na retirada da Raposa Serra do Sol, diz advogada

30/03/2006 - 13h08

Beatriz Pasqualino
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Os índios da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, temem ser alvo de violência por parte de fazendeiros que terão de desocupar a área até o dia 15 de abril. É o que revelou hoje (30), em São Paulo, a advogada do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Joênia Batista de Carvalho.

Por conta de seu trabalho em defesa dos índios, ela será uma das homenageadas no lançamento do livro Brasileiras Guerreiras da Paz, na capital paulista.

"Queremos que as coisas aconteçam pacificamente. Mas quando saiu a homologação, os arrozeiros promoveram uma manifestação violenta por meio de cooptação de indígena e destruição da escola da aldeia. Temos uma insegurança muito grande, mas confiamos no Estado brasileiro", afirma Carvalho.

O prazo para a saída dos produtores de arroz da reserva foi estipulado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) a partir da homologação da área por decreto do presidente Lula, em abril do ano passado. A Funai concedeu 12 meses para garantir a colheita da safra.

A reserva possui mais de 1,7 milhão de hectares e abriga 15 mil indígenas de diferentes etnias. A luta pela terra durou cerca de 34 anos até a homologação.

"Está bem claro que é uma questão de cumprir o que a Constituição determina para que as comunidades possam de fato exercer a posse permanente das terras indígenas. Com a retirada dos arrozeiros e de todos os não-índios esperamos que se tenha mais tranqüilidade para viver ali", diz a advogada do CIR, primeira índia a formar-se em Direito no Brasil.

Por sua trajetória de vida, ela foi uma das 52 brasileiras selecionadas para indicação ao Prêmio Nobel da Paz no ano passado, pelo Projeto 1000 Mulheres. O projeto reuniu em 154 países as mulheres que se destacam na luta por um mundo mais justo. O livro a ser lançado esta noite traz o perfil e fotos das 52 brasileiras escolhidas.