Dom Balduíno se diz decepcionado com reforma agrária de Lula, mas destaca ampliação do diálogo

30/03/2006 - 18h00

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomás Balduíno, se disse hoje (30) decepcionado com o governo Lula, por o presidente não ter conseguido avançar no processo de reforma agrária. Balduíno fez as declarações ao lançar o documento "As Igrejas e os Problemas da Terra", endossado por 76 bispos e pastores de quatro igrejas cristãs.

"A reforma agrária não caminha", reclama o presidente da CPT. "O governo Lula decepcionou com relação à reforma agrária", diz. Segundo os bispos e padres, os números apresentados pelo governo e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) não são reais. "Os números apresentados pelo governo para nós parecem números de propaganda, não número de realidade."

A assessoria de imprensa do Incra informou que o instituto não iria se pronunciar sobre as acusações do bispo. Para Balduíno, o ponto positivo do governo Lula é o diálogo com os trabalhadores do Movimento dos Sem-Terra e o "fato de não fazer a repressão". "Com toda a investida deles [MST], que continuam as ocupações, o governo nunca fechou o diálogo com esses trabalhadores."

Dom Balduíno comparou os governos de Lula e FHC: "Fernando Henrique Cardoso colocava a polícia, prendia [trabalhadores], apoiava as milícias a serviço dos fazendeiros, castigavam os trabalhadores rurais. No governo Lula, pelo contrário, há até diálogo".

O documento lançado hoje faz uma avaliação do processo de reforma agrária no país e traz proposições para os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O objetivo é usar a "autoridade" da igreja para chamar a atenção dos governantes.

"Quem fazia oposição ao governo eram os movimentos e hoje esses movimentos continuam com força. Independente da autoridade dos bispos, isso já deve ser uma forma de convencer essas autoridades. Queremos sensibilizar as autoridades com essa autoridade", disse o bispo.