Mylena Fiori
Enviada especial
Curitiba - Cerca de 2 mil crianças de oito países, com idade de 6 a 13 anos, desfilaram hoje (28) pelas ruas da capital paranaense fantasias de onças, pássaros, baleias, borboletas e árvores, levando globos terrestres e faixas pela preservação da vida.
Ao som de tambores e cavaquinhos, elas cantaram o Samba pela Vida, cuja letra foi entregue à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva: "Nosso sonho é ver as florestas no lugar, ver para sempre o uso sustentável dessa herança milenar. Cantamos hoje pra depois ninguém chorar, para convencer governos, mentes, corações que sem vontade e grana não vamos deixar biodiversidade pras futuras gerações".
O desfile terminou na praça em frente ao Estação Embratel Convention Center, onde se realiza o segmento ministerial de alto nível da 8ª Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica (COP8).
Antes de a ministra contar um pouco de sua história de vida à garotada, a filha dela de 16 anos, Moara Silva Vaz Lima, mandou um recado aos jovens – a grande maioria, moradores da periferia de Curtiba que participam de um projeto para crianças carentes da Universidade Livre de Meio Ambiente. "Desde quando eu era pequeninha, minha mãe sempre foi preocupada com o meio ambiente e, por causa disso, ela vivia viajando e eu morria de saudade dela. Eu vejo que hoje tudo isso valeu a pena. Que vocês são sementes que um dia vão gerar árvores e dar frutos maravilhosos. Parabéns", discursou Moara, do alto do caminhão de som do Greenpeace.
Para Marina Silva, a "passeata infantil" foi uma demonstração de que eles também se convenceram da necessidade de proteger o meio ambiente. "Nós não temos o direito de causar prejuízos para gerações que ainda nem nasceram. Por isso, como ministra do Meio Ambiente, estou muito agradecida de ver hoje vocês lutando pelo futuro, de ter a minha filha também lutando pelo futuro e, mais do que isso, dizendo que valeram a pena os momentos de saudade", afirmou.
A ministra contou ainda que aprendeu a amar e a respeitar a natureza ainda criança, quando vivia na floresta amazônica e viu jorrar seiva, "feito sangue", de uma árvore "machucada" pelo pai, que era seringueiro. "Quando ele saiu, eu peguei o galho, molhei no barro, botei no lugar do ferimento do machado e falei para aquela árvore: você não precisa mais sentir dor, não precisa mais gemer, eu estou passando remédio na sua ferida. Aquilo foi algo muito forte para mim. De alguma forma, aquele gesto, naquele dia, me fez compreender que a natureza espera que nós, seres humanos, tenhamos respeito pelas outras formas de vida", lembrou. E pediu às crianças: "Não permitam que esta seiva verde que está no coração de vocês venha a secar. Ela irriga os sonhos, as esperanças e os sentimentos mais profundos de um mundo melhor".