Produtores de região fumageira gaúcha terão recursos do Pronaf para aplicar em outras culturas

27/03/2006 - 20h21

Shirley Prestes
Repórter da Agência Brasil

Porto Alegre - O governo federal vai liberar R$ 10 milhões em recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para que os produtores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná possam apostar em outras lavouras, "sem proibir o cultivo de tabaco". O anúncio foi feito hoje (27) pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, em Venâncio Aires, na região centro-leste do Rio Grande do Sul.

"Esse volume de recursos vai assegurar os investimentos para criar condições reais de que os agricultores operem com outras culturas", afirmou o ministro, ao apresentar as novas diretrizes do Programa de Apoio à Diversificação Produtiva em Áreas Cultivadas com Tabaco. Segundo o ministro, a aprovação da convenção-quadro não implica restrição da produção de tabaco no país. "A posição formalizada pelo governo brasileiro é de garantir renda para os produtores mesmo com a redução da demanda pelo tabaco, por meio de outras culturas", disse ele.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) informou que o programa divide a região produtora de fumo em cinco territórios: três no Rio Grande do Sul, um em Santa Catarina e um no Paraná. Já os valores liberados serão divididos em R$ 1 milhão para cada um desses territórios investirem em comercialização, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Os outros R$ 5 milhões são para capacitação e extensão rural.

"A expectativa é que os valores sejam alocados durante os próximos seis meses, assim que for aprovado o orçamento no Congresso Nacional. Depois que utilizarmos todo o montante, vamos lutar pela liberação de mais recursos", acrescentou Rossetto.

O ministro disse que, entre os focos principais do projeto de apoio à diversificação da cultura do tabaco, estão o financiamento, o acesso à tecnologia, a agregação de valor à produção local e o apoio à comercialização. "Nosso compromisso é avançar num programa de diversificação para agregar outras formas de gerar renda para os agricultores", explicou. No fim de janeiro, Rossetto esteve na região fumageira gaúcha e sugeriu que o governo estadual, movimentos sociais, universidades, prefeituras, organizações não-governamentais, sistemas de extensão rural, cooperativas e outras entidades do setor dessem contribuições ao projeto do governo federal.

Segundo o MDA, o agricultor Lauro Kist, de 48 anos, que estava presente ao evento, gostou do projeto. "É disso que a gente precisa", disse Kist, que plantava fumo e agora está com um pomar de citros e uma criação de peixes em sua propriedade de 15 hectares, no município de Venâncio Aires. "Precisamos de incentivos que completem a cadeia, mas não queremos outro modelo que nos ponha na mão de uma grande indústria, como o fumo fez", explicou o agricultor.

O prefeito Almedo Dettenborn disse que, apesar de o município estar "marcado pelo fumo", apóia a nova proposta. "É muito importante que o produtor que deseja diversificar sua cultura tenha o apoio necessário de quem conhece o assunto e que também aquele agricultor que deseja continuar com o fumo esteja livre para isso", destacou.