Movimento <i>Slow Food</i> apresenta na COP-8 os projetos que apóia no Brasil

27/03/2006 - 20h20

Thaís Brianezi
Enviada especial

Curitiba - O movimento Slow Food (em português, alimentação lenta, uma contraposição ao fast food) trabalha para manter a diversidade da biologia e da gastronomia tradicional. Essa rede nascida na Itália, em 2003, apresentou hoje (27) os projetos que apóia no Brasil, durante o sexto dia da 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8).

"A gente parte da perspectiva da educação, de lembrar às pessoas que nem todas as comidas precisam ser iguais, padronizadas", declarou a assessora técnica da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério de Desenvolvimento Agrário, Roberta Marins de Sá. O ministério é parceiro da Fundação Slow Food para Biodiversidade. No Brasil, eles apóiam cinco culturas tradicionais (chamadas de "fortalezas"): o umbu (fruta do sertão nordestino), o palmito juçara, o guaraná, o mel melipona (de abelha sem ferrão) e um tipo especial de feijão.

A Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curuça (Coopercuc), três municípios do sertão bahiano, iniciou em 1999 seu trabalho de coleta e beneficiamento artesanal do umbu, com 20 famílias. Segundo Juçara Souza, uma das coordenadoras da organização, hoje são 200 produtores familiares, que contam com uma fábrica capaz de beneficiar uma tonelada da fruta por dia, além de 13 unidades comunitárias de beneficiamento.

"Em 2004, a gente conheceu o movimento e se tornou uma fortaleza. Hoje já vendemos 4% da nossa produção para uma rede de comércio justo na França", contou Juçara Souza. "A maior parte da produção, 92% dela, vai para a merenda escolar, por meio da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento]".

Em Bertioga e São Sebastião, no litoral paulista, o movimento Slow Food está apoiando o projeto Nhanahty Jejy (em guarani, algo como "vamos plantar palmito"). Na terra indígena Ribeirão Silveira, onde vivem 85 famílias guarani, a plantação e beneficiamento de palmito é fonte de alimentação e renda há dez anos. "Agora a gente está fazendo oficina para outras comunidades", revelou o representante da organização indígena Teku Arandu – Memória Viva Guarani, Adolfo Timóteo.

"A fortaleza apóia culturas em extinção. Muita gente conhece o guaraná, mas pouca gente sabe que seu uso foi descoberto pelo povo Sateré-Maué", afirmou o líder indígena Abadias Macedo. Os Sateré-Maué vivem no Amazonas e hoje são aproximadamente 8 mil pessoas. Dessas, cerca de 6 mil moram em uma território demarcado, com 788 mil hectares. "Nós somos 750 produtores e conseguimos vender sete toneladas de guaraná por ano. As empresas no Amazonas pagam R$ 7 pelo quilo do guaraná. Nós conseguimos pagar R$ 33", explicou.

No mundo inteiro, o Slow Food apóia 275 "fortalezas", das quais apenas 75 estão fora da Itália. "Neste ano, o Brasil terá mais três fortalezas", contou Juçara Souza. Em outubro, ela lembrou, o segundo encontro Terra Madre reunirá 5 mil produtores tradicionais (chamados pelo movimento de "intelectuais da terra") e mil chefes de cozinha. O Brasil deverá enviar 150 participantes.

"O primeiro Terra Madre aconteceu em 2004. Havia 4.900 intelectuais da terra, de 130 países, e 150 eram brasileiros. A diferença agora é que levaremos também chefes de cozinha, para que eles usem e divulguem os nossos produtos", afirmou Juçara Souza.