Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O cultivo de árvores como o eucalipto para produção de celulose e madeira deveria estar associado às propriedades rurais ligadas à agricultura familiar, em vez de ocupar grandes áreas de propriedade de empresas do setor.
Essa é a avaliação do engenheiro florestal Luiz Fernando Schettino, professor do Departamento de Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo. "Se você fizer isso, a polêmica acaba", diz ele.
Nos últimos dias, movimentos sociais ligados à rede internacional Via Campesina têm realizado protestos contra o chamado "deserto verde". No dia 8 de março, uma unidade de pesquisa da empresa Aracruz foi destruída em Barra do Ribeiro (RS).
"Escolheram o eucalipto para vilão", lamenta Schettino. Para ele, as áreas de reflorestamento são hoje importantes até mesmo para que se reduza a pressão sobre as matas nativas. "O que precisamos é de um modelo que desenvolva as propriedades rurais, que dê sustentabilidade ao meio rural."
No Espírito Santo, a luta dos movimentos sociais contra as florestas de eucalipto é mais antiga: a Rede Contra o Deserto Verde foi criada em 1992. No estado, as plantações ocupam 250 mil hectares.
Ali, segundo o pesquisador, foram cometidos abusos no passado, como a derrubada de mata nativa para liberar áreas para o reflorestamento, nos anos 60, ou o plantio de variedades de eucalipto de raiz pivotante (que penetra profundamente no solo, podendo prejudicar lençóis freáticos) perto de nascentes ou cursos d’água.
"Foram cometidos erros que hoje não se cometem mais", diz ele. O eucalipto hoje cultivado - os chamados "clones" - não possuiria mais esse tipo de raiz. A Aracruz, presente no Espírito Santo desde os anos 60, teria avançado nesse sentido.
"A empresa tem evoluído nos conceitos ambientais e sociais. Além de gerar impostos, ela apóia projetos sociais e ambientais, inclusive na universidade pública", conta Schettino.