Destruição de mudas abre debate sobre eucalipto no Brasil

18/03/2006 - 9h15

Juliana Andrade e Bianca Paiva
Da Agência Brasil

Brasília – A destruição de mudas de eucalipto da empresa Aracruz Celulose por agricultoras da Via Campesina, no Rio Grande do Sul, no dia 8 de março, expôs o debate em torno do impacto ambiental das grandes plantações.

Os trabalhadores rurais classificam as florestas de eucalipto como "desertos verdes", em referência à eliminação da biodiversidade. Cientistas e gestores concordam que a cultura de eucalipto não deve ser a única opção de reflorestamento, mas de forma sustentável podem trazer benefícios para áreas totalmente devastadas.

Originário da Austrália e outras ilhas da Oceania, o eucalipto foi trazido para Brasil na segunda metade do século 19. O setor de construção civil queria utilizar a madeira para produzir os dormentes utilizados nas primeiras linhas férreas.

Atualmente, o país possui a maior área plantada de eucaliptos do mundo (mais de 3 milhões de hectares). De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Brasil é o maior produtor mundial de celulose (cerca de 6,3 milhões de toneladas por ano).

O eucalipto brasileiro se destina basicamente à produção de celulose e papel e ao carvão que abastece as siderúrgicas. As indústrias brasileiras que usam o eucalipto como matéria prima para a produção de papel, celulose e demais derivados representam 4% do Produto Interno Bruto, 8% das exportações e geram aproximadamente 150 mil empregos.

O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério da Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, acredita que é possível conciliar os interesses econômicos e a proteção ambiental. "O eucalipto não é uma espécie danosa. O problema é quando uma espécie qualquer é utilizada de forma inadequada", ressalta Capobianco.

Segundo Capobianco, a imagem negativa que se criou do eucalipto é conseqüência de projetos do passado. Ele lembrou que na década de 70, principalmente, com os incentivos fiscais do governo federal, houve um estímulo ao plantio do eucalipto em grande escala, sem planejamento e sem cuidados ambientais, o que levou à destruição de extensas áreas de Mata Atlântica e de Cerrado.

Capobianco vê a possibilidade de tornar a plantação de eucalipto uma alternativa viável ambiental, econômica e socialmente. Existem projetos em estudo para a inclusão dos agricultores familiares na atividade.

"Qualquer monocultura é danosa, seja de eucalipto, seja de uma espécie nativa. Mas, não há, em princípio, nenhum problema em se ter o uso do eucalipto em determinadas regiões da Amazônia que já foram degradadas no passado. Ela pode, ao contrário, trazer benefícios ambientais e sociais."

Colaborou Irene Lôbo