Ocupação temporária de favelas não é solução para crime, acredita pesquisadora

13/03/2006 - 12h04

Cristina Índio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio – Não foi acertada a ocupação de favelas cariocas pelo Exército, em busca de dez fuzis e uma pistola roubados, na avaliação da antropóloga Alba Zaluar. A coordenadora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), concedeu entrevista hoje (13) ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.

"Não vai adiantar nada encontrar as armas e deixar as quadrilhas de traficantes continuarem a aterrorizar", destacou a pesquisadora, que elogiou a retirada parcial das tropas, com a desocupação de duas favelas. "A retirada é bem vinda e um passo à frente na recuperação de medidas erradas anteriores."

Alba Zaluar disse que a ação do Exército foi tempestuosa e impensada, sem planejamento e reflexão dos possíveis efeitos da ocupação militar de áreas onde moram trabalhadores, estudantes, crianças, pessoas idosas e doentes.

"São pessoas que precisam se movimentar sair, ir à escola, hospital, trabalhar", lembrou a professora, que na década de 80 orientou os estudos de Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus", ponto de partida do filme homônimo. A antropóloga também é contrária à política de segurança local do Rio de Janeiro, classificada por ela de violenta por manter a prática de incursões temporárias nas favelas.

"É preciso que as nossas polícias se tornem, também, mais investigativas e acreditem muito mais em uma ação que seja vista como coerente e permanente", defendeu a professora da UERJ. "O enfretamento não pode ser feito com urutus e caveirões. Esse é um jogo para mostrar quem tem mais força, também feito pelos traficantes."

A professora disse ter comprovado nas pesquisas sobre a criminalidade no Rio que os roubos de armamentos em unidades militares já ocorrem há muito tempo. Ela lembrou que em 2004 houve um outro caso em uma unidade da Aeronáutica, quando fuzis também foram roubados.

"A gente pergunta porque agora foi tomada essa medida tão drástica e em um certo sentido meio incompreensível", critica Alba. "Não se entende a razão da escolha de certas favelas, de se apontar canhão na direção da Escola de Samba da Mangueira, de obras históricas no morro da Providência."