Eliane Gonçalves e Paulo Machado
Enviados especiais*
Natal (RN) - Uniforme cáqui, GPS (localizador via satélite) na mão, prancheta e muita atenção pelo caminho. O que parece só uma pedrinha pode ser o vestígio de antigas civilizações. A equipe de arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco acompanha a abertura da nova pista na duplicação da BR-101 Nordeste, no trecho entre Recife e Natal. A obra está na etapa de terraplanagem, até agora foram localizados 20 sítios arqueológicos em Pernambuco e dois na Paraíba.
A arqueóloga da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Silvia Uchôa, explica que o momento exige muita atenção da equipe: "Agora a gente está acompanhando, monitorando o rebaixamento de nível. Muitas vezes o material está um pouco abaixo do solo e quando faz essa limpeza ele aparece. Já é uma área muito mexida, muito material está aflorando e isso dá a perspectiva de encontrar algum sepultamento, alguma coisa embaixo do solo".
Para Marcos Albuquerque, professor de Arqueologia da UFPE, é comum, em obras desse porte, encontrar sítios arqueológicos. Segundo ele, nesta região, existiu maior ocupação do território brasileiro no período pré-histórico do que nos momentos atuais. "É raro os locais onde não encontramos sítios arqueológicos que vão desde grupo de caçadores holocênicos, quer dizer, de oito mil anos atrás até sítios do período colonial", diz.
O material encontrado vai ficar guardado temporariamente na Universidade Federal de Pernambuco. Mas além de sítios arqueológicos, também é preciso estar atento para que a construção da nova pista não resulte em outros problemas mais tarde como a destruição das reservas ambientais. A maior parte da floresta que existia na região foi devastada, nos últimos 500 anos. Agora, a obra, além de tentar preservar o que ainda existe, também deve tentar recuperar o que já foi destruído, o que os ambientalistas chamam de passivo ambiental.
Marco Andrey, coordenador técnico de meio-ambiente do Centro de Excelência em Engenharia (Centran) afirma que essa região teve um desmatamento muito grande ao longo da história. "Temos que recuperar o passivo ambiental em áreas que foram destruídas, tanto da época da construção da rodovia quanto nos últimos anos e que podem vir a comprometer o corpo da pista que esta sendo construída", diz.
O ambientalista informa que algumas áreas degradadas historicamente, como a reserva biológica Guaribas, pertencente ao Ibama, serão recuperadas, além da revitalização de áreas de preservação permanente e de matas ciliares, próximas aos cursos d’água.
*A equipe da Radiobrás viajou a convite do Ministério do Planejamento