Spensy Pimentel
Enviado especial
Porto Alegre – O acesso à terra não é a única preocupação dos participantes da 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural. Mar, rios e lagoas do mundo todo estão sob a ameaça da privatização, o que põe em risco a atividade dos 300 milhões de pescadores do mundo, segundo o Fórum Mundial dos Pescadores.
"Se as políticas internacionais seguirem da mesma maneira que estão hoje, quatro grandes grupos econômicos poderão ter o controle total da produção pesqueira no mundo", alerta o chileno Pedro Avedano, diretor do fórum.
Ontem (9), na sessão de diálogo entre representantes de governos e movimentos sociais, Avedano apresentou o ponto de vista dos pescadores artesanais, que têm vários representantes participando dos eventos paralelos do à conferência.
Segundo ele, os quatro grandes grupos são a empresa espanhola Pescanova, os conglomerados de empresas estatais da Federação Russa e da China e um conjunto de empresas japonesas.
Pelos cálculos do fórum, os pescadores são responsáveis por fornecer a alimentação de 1 bilhão de pessoas no mundo. As conseqüências da hegemonia das grandes empresas não prejudicaria apenas os pescadores, analisa o diretor do fórum, pois a produção industrial pesqueira em grande escala está esgotando rapidamente os recursos pesqueiros do mundo.
Para sustentar sua escala de produção, as empresas estão conseguindo obter em seu favor leis que, na prática, privatizam os recursos marinhos, explica Avedano. "Negam ao pescador a licença de pesca, e ele, para sair ao mar, é como um camponês que vai para uma ocupação de terra que não é sua", compara. Entre os países onde as políticas de "privatização do mar" estão mais avançadas estão o Chile, o Canadá, a Nova Zelândia, a Austrália e a Islândia, segundo Avedano.
Ele admite que os pescadores artesanais também participam da sobrexploração dos recursos pesqueiros em algumas regiões do mundo, como a África e o Brasil, mas ressalva: "Nenhuma comunidade de pescadores esgota por si mesma seus recursos pesqueiros. O problema é que o mercado exige cada vez mais produção desses pescadores, estimulando a competição com as grandes empresas".