Shirley Prestes
Repórter da Agência Brasil
Porto Alegre - A Polícia Civil do Rio Grande do Sul intimou hoje (10) a Via Campesina a prestar esclarecimentos sobre o protesto feito quarta-feira (8) por suas militantes nas instalações da empresa Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro, região metropolitana de Porto Alegre. Os quatro porta-vozes da Via Campesina, uma rede internacional de movimentos sociais rurais, foram intimados durante a entrevista coletiva convocada para a avaliação política da 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural.
Paul Nicholson, dirigente da Via Camponesa no País Basco, não quis assinar a intimação sem a presença de um advogado da entidade, alegando que "não sabia o que estava escrito". Após tomar conhecimento do texto, com o auxílio de tradutores, ele se comprometeu a comparecer voluntariamente à delegacia.
"É uma grande surpresa que, precisamente numa semana em que estamos debatendo a reforma agrária e quando milhões de camponeses de todo o mundo estão exigindo a divisão social da terra, os representantes da Via Campesina tenham que falar com a polícia", reagiu Nicholson. Na entrevista, Nicholson e mais quatro representantes de organizações internacionais ligadas à causa camponesa, haviam defendido a ação das militantes da Via Campesina, "em reivindicação pela reforma agrária" no Dia Internacional da Mulher.
"A ocupação do horto florestal da Aracruz foi para denunciar as conseqüências sociais e ambientais do avanço da invasão do deserto verde, criado pelo monocultivo de eucaliptos no Rio Grande do Sul", explicaram os porta-vozes da Via Campesina. Os representantes da Via Campesina disseram que a fazenda invadida e destruída pelas mulheres "concentra a principal unidade de produção de mudas de eucalipto e pínus da Aracruz, tendo inclusive um laboratório de clonagem".
Segundo a empresa, durante o protesto na unidade de Barra do Ribeiro, cerca de 2 mil trabalhadoras rurais e agricultoras destruíram 1 milhão de mudas prontas para plantio, sementes para pesquisa e materiais genéticos. A empresa rebateu a acusação de que constrói um "deserto verde", ao substituir a vegetação nativa da região e a agricultura por eucaliptos.
Ontem (9), o Ministério Público do Rio Grande do Sul, através da Promotoria de Justiça Social, já havia instaurado processo investigativo para esclarecer o caso. A investigação será concluída pela Promotoria de Justiça de Barra do Ribeiro.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário também divulgou nota condenando a atitude do movimento com a Aracruz Celulose. Na nota, o ministro Miguel Rossetto salientou que "a ação não reflete o ambiente de debate e troca de experiência que ocorre desde o início da semana na conferência internacional, que conta com a participação de delegações de 95 governos".
Também participaram da entrevista quatro dirigentes da Via Campesina: Ingeborg Tangeraas, da Noruega, Nettie Wiebe, do Canadá, Henry Saragih, da Indonésia, e Juana Ferrer, da República Dominicana.