Marcela Rebelo
Enviada Especial
Viña del Mar (Chile) – O Chile se tornou confiável no mercado internacional principalmente por causa da estratégia dos sucessivos governos de manter a política econômica no país. A avaliação é do economista Carlos Mussi, oficial da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) no Brasil. "É um país que já tem há algum tempo o famoso investment grade, ou seja, grau de investimento. As agências de crédito consideram o país recomendado para investimentos de médio e longo prazos", destacou o economista em entrevista à Agência Brasil.
Mussi observou que, assim como os outros governantes, a presidente eleita do país, Michellet Bachelet, não deve alterar o modelo econômico chileno. A socialista encabeça a frente partidária Concertación, coalização de centro-esquerda que governa o país desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990. "Em termos de política econômica, a Concertación viu que não podia alterar drasticamente a estratégia chilena de crescimento. É um modelo exportador e liberal", explicou o economista.
"O importante da experiência chilena é sua persistência e continuidade em uma estratégia de desenvolvimento com abertura para o mercado externo. Além disso, há um controle muito importante sobre as principais variáveis macro-econômicas, especialmente as taxas de câmbio e juros e o resultado fiscal do país", ressaltou Carlos.
O Chile tem tratados de livre comércio com os Estados Unidos, países da União Européia e da Ásia. Os chilenos exportam, principalmente, cobre, alimentos, frutas, vinho, produtos químicos, celulose e móveis de madeira. Em 2004, o volume de vendas externas chegou a US$ 32 bilhões, dos quais US$ 14 bilhões resultaram da exportação de cobre, segundo estimativas da Cepal.
O país é o maior produtor de cobre. A estatal Corporación Nacional del Cobre de Chile (Codelco) é a principal exportadora do metal. Os principais destinos foram os países da União Européia (US$ 7,4 bilhões), Estados Unidos (US$ 4,4 bilhões), países da América Latina (US$ 5,4 bilhões), Japão (US$ 3,6 bilhões) e China (US$ 3,2 bilhões).
O economista da Cepal ressaltou ainda que um dos desafios do Chile é diversificar sua pauta de exportações, passando de uma economia baseada, principalmente, em recursos naturais para uma de valor agregado. "Eles tentaram entrar na área de software, mas tem o problema de escala. Eles têm bom material humano, mas a operação interna não é suficiente para justificar o investimento. Os chilenos gostariam de ser a base de multinacionais nessa área para a América Latina", destacou.
Outra tarefa de Bachelet, na opinião do economista, é aumentar a integração do Chile com os demais países da América do Sul. "É um desafio de como construir uma união aduaneira, de criar interesses comuns em certos setores. A América Latina é o mercado mais próximo deles", argumentou Mussi.
O economista destacou, no entanto, que a política econômica adotada pelo Chile acentuou as desigualdades sociais no país. "Na construção desse modelo, a área social perdeu prioridade. O que se tem notado, nos últimos anos, é um esforço de efetivamente fazer com que o crescimento econômico chileno seja mais solidário, muito mais propenso a acomodar situações sociais específicas", afirmou.
Na opinião do economista, o Chile tem uma "trajetória econômica especial" por ter iniciado suas reformas muito antes dos outros países latino-americanos. "Isso ocorreu por causa do trauma decorrente do experimento socialista de Salvador Allende e da conseqüente reação dos militares", disse.
Ele afirmou ainda que "a economia chilena deve a ser a única da região capaz de fazer políticas anti-cíclicas, ou seja, que têm mecanismos para compensar momentos de crise". "O Chile tem, por exemplo, um Fundo do Cobre. Quando o metal está com o preço muito alto, nem todo o dinheiro da venda vai para o governo. Fica depositado e somente quando o preço do cobre cai abaixo de um valor estabelecido, o Estado pode utilizar o dinheiro", exemplificou.