Integrante do hip hop diz que jovens perdem confiança em Ponto de Cultura com atraso de bolsas

07/03/2006 - 20h50

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O atraso de três meses no repasse da bolsa de R$ 150 aos jovens participantes do programa Agente Cultura Viva tem causado mal-estar nas comunidades que desenvolvem o projeto, segundo afirma o coordenador-geral do Ponto de Cultura Movimento Hip Hop Organizado Brasileiro (MHHOB) do Rio de Janeiro, Flávio Eduardo da Silva Assis.

"Essa questão de ajuda de custo gerou muita expectativa, e isso querendo ou não causa uma perda de confiança até da nossa parte. Os jovens estão com aquela imagem de que é promessa e que nunca passará disso. Como o curso parou nesses três meses, frustrou muita gente nas comunidades. Muitos deles não querem mais nem saber", explicou Gil BV, representante do MHHOB em Teresina (PI). Segundo o coordenador piauiense, dos 75 jovens inscritos, apenas 25 continuam freqüentando as oficinas locais.

O primeiro pagamento da bolsa deveria ter sido efetuado no dia 15 dezembro, o segundo, no dia 15 de janeiro, e o terceiro, no dia 15 do mês passado. Segundo o secretário de Política Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho, Remígio Todeschini, os pagamentos serão normalizados.

O Agente Cultura Viva é integrado ao Ponto de Cultura, programa desenvolvido pelo Ministério da Cultura. Além disso, funciona em parceria com o programa Primeiro Emprego, do Ministério do Trabalho e Emprego. Participam dele jovens de baixa renda, com idade entre 16 e 24 anos, que, durante seis meses, deveriam receber auxílio financeiro para se capacitar em atividades culturais.

O militante hip hopper do Rio avalia que o atraso se deve à burocracia e à falta de comunicação entre os órgãos do governo. "Eu particularmente já desacreditei. Eles exigiram muito de nós: prazo para entregar documentos, que eu me responsabilizasse por um monte de coisas que acontecesse. Eu me responsabilizei e mandei tudo no prazo certo, mas eles não cumpriram prazos. Eu vejo isso como uma falta de respeito com as organizações".

Para Gil BV, o projeto deverá se extinguir em breve, "já que a cada dia é menor o número de jovens que freqüentam as oficinas". Segundo ele, por causa do valor da bolsa muitos jovens deixaram de trabalhar em empregos informais e agora estão sem renda.

Atualmente existem oito pontos de cultura no país. Eles ficam no Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Maranhão, São Paulo, Rondônia e Paraíba.