Spensy Pimentel
Enviado especial
Porto Alegre - Agricultores e militantes ligados à Via Campesina, organização presente em 56 países, promovem hoje (7) duas mobilizações no Rio Grande do Sul em defesa da reforma agrária.
Pela manhã, cerca de mil pessoas devem marchar do Parque Harmonia até a Pontificia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), sede da 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural.
Em frente à universidade, os trabalhadores rurais já montam barracos de lonas pretas. Ainda nesta terça-feira, um outro grupo de agricultores faz visita em solidariedade aos cerca de 2 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que ocupam, desde 28 de fevereiro, a Fazenda Guerra, no município de Coqueiros do Sul (RS).
Segundo informações da Via Campesina, a Fazenda Guerra tem 7 mil hectares e já foi ocupada três vezes pelo MST. Os movimentos alegam que a fazenda não cumpre função social, tendo histórico de dívidas bancárias e descumprimento da legislação trabalhista e ambiental.
No sábado, as famílias sem-terra receberam ordem judicial para deixar o local. A Brigada Militar do Rio Grande do Sul pode realizar operação de reintegração de posse até esta quarta-feira (8).
Integrante da Via Campesina, o MST cobra do governo federal o cumprimento de metas de assentamento no estado. Segundo a organização, estava previsto o assentamento de 15 mil famílias no Rio Grande do Sul até 2006, mas só 220 famílias foram assentadas em novas áreas no estado desde 2003.
Para discutir assuntos como esse, a Via Campesina realiza esta semana em Porto Alegre o Fórum Terra, Trabalho e Dignidade, atividade paralela à 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em parceria com o governo brasileiro.
Os agricultores discordam dos números do governo sobre a reforma agrária porque só consideram realmente assentadas as famílias levadas a terras desapropriadas ou compradas. Para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, na Amazônia, por exemplo, devem ser contabilizados os casos de titulação de terra de posseiros.
O ministério também afirma que os programas de crédito fundiário atendem a demanda de parte dos movimentos sociais do campo, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e as Federações de Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetrafs).