Anúncio de ocupação de terras improdutivas deixa governo apreensivo, diz secretário

07/03/2006 - 20h00

Spensy Pimentel
Enviado especial

Porto Alegre - O governo está apreensivo, mas não surpreso com o anúncio de que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) poderá ocupar terras improdutivas em todo o país, até o mês de abril. A afirmação é do secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. "A gente não vê com naturalidade, vê com apreensão, acompanha, tenta resolver os problemas que podem ser resolvidos, mas também isso não é nenhuma novidade no cenário brasileiro", disse ele.

O MST anunciou hoje (7) que, até abril, mobilizará as 120 mil famílias integrantes do movimento que estão acampadas à espera de assentamento para possíveis ocupações em 23 estados e no Distrito Federal, além de promover atividades como debates e marchas por todo o país.

Cassel explica que o fato era previsível. "Estamos no período de mobilização por conta do aniversário de Eldorado dos Carajás (massacre de 19 sem-terra, no Pará, em 17 de abril de 1996). A gente precisa começar a compreender de forma mais decisiva essa situação. A reforma agrária é uma tarefa que o país deveria ter cumprido há mais de 100 anos."

Segundo o secretário executivo, os números da reforma agrária promovida pelo atual governo são significativos. "Só que isso não resolve todos os problemas de uma hora para outra. São demandas de décadas e décadas que estão acumuladas. Durante algum tempo, nosso país vai conviver, sim, com ocupações, com reivindicações por terra. E a gente tem que ver isso numa perspectiva histórica, de quem está resolvendo o problema", acrescentou

Cassel participa da 2ª Conferência Internacional sobre a Reforma Agrária e o Desenvolvimento Rural, que se realiza até sexta-feira (10) na capital gaúcha, promovida pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) em parceria com o governo brasileiro.