Rio, 6/3/2006 (Agência Brasil - ABr) - A operação de ocupação de favelas do Rio pelo Exército oferece risco à população, uma vez que os militares não estão preparados para esse tipo de intervenção. A afirmação é do pesquisador associado do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial José Vicente da Silva Filho. A instituição desenvolve estudos na área de segurança pública.
Silva Filho, que foi secretário nacional de Segurança Pública em 2002, considera legítima a participação do Exército, mas entende que a coordenação deve ser da Polícia Militar. Segundo ele, o Exército não tem capacitação técnico-operacional para isso. "Esse tipo de operação exigiria uma coordenação extremamente refinada entre as polícias", disse o pesquisador.
Ele afirmou que existem no Rio de Janeiro tropas das polícias Civil e Militar qualificadas para ações desenvolvidas em meio à população, como o Batalhão de Operações Especiais (Bope) e a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).
O pesquisador destacou que a atuação não deveria ser "um espasmo", e sim parte de uma estratégia mais ampla, permanente, voltada para a questão do tráfico de armas. Nesse caso, o Exército poderia, sim, ser empregado, por exemplo, para fechar as entradas das favelas, mas quem faria as incursões de busca seriam as tropas da polícia.
Silva Filho questionou também a visão militar de combate ao tráfico, que muitas vezes é sinônimo de troca de tiros com traficantes em meio à população. "Não há prisão ou morte de 200 traficantes que justifique você matar um inocente num tiroteio. Não se deve ter troca de tiros em região habitada", afirmou o pesquisador. Ele disse que uma ação eficiente dos serviços de inteligência pode evitar esses episódios dramáticos, mas ressaltou que hoje o serviço é muito precário no país, principalmente no que diz respeito ao tráfico de armas.