Josué de Castro é homenageado na conferência sobre reforma agrária e desenvolvimento no Sul

06/03/2006 - 20h52

Spensy Pimentel
Enviado especial

Porto Alegre – O livro Geografia da Fome, obra pioneira ao mostrar como a existência desse problema serve à dominação política, completa 60 anos de publicação em 2006. O autor, o médico e político pernambucano Josué de Castro (1908-1973) é o principal homenageado pela 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural.

O encontro começou hoje (6), promovido na capital gaúcha pelo Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em parceria com o governo brasileiro. O filho de Castro, Josué Fernando de Castro Filho, esteve presente à cerimônia de abertura.

Uma exposição da Fundação Banco do Brasil, no saguão do prédio principal em que se realiza a conferência, mostra a biografia de Castro, que entre 1952 e 1956 ocupou o cargo de presidente do conselho executivo da FAO.

De família paraibana, fugida da seca no fim do século 19, ele nasceu em Recife e formou-se em medicina no Rio de Janeiro. Tornou-se professor de geografia e antropologia na capital pernambucana e, nos anos 40, a convite de diversos governos, viajou pelo mundo para estudar questões ligadas à nutrição humana e as razões da persistência da fome em tantas regiões do mundo, a despeito das boas condições naturais para a produção de alimentos.

Publicou diversos livros e artigos sobre o tema da fome, com repercussão internacional. Títulos como Geopolítica da Fome, O Livro Negro da Fome e Homens e Caranguejos – seu único livro de ficção – foram traduzidos para mais de 25 idiomas. Por conta de sua militância, foi duas vezes indicado ao Prêmio Nobel da Paz.

Na política nacional, Josué de Castro também teve papel de destaque. No governo Getúlio Vargas, ajudou a criar programas públicos que persistem até hoje, como a merenda escolar e a obrigatoriedade de adicionar iodo ao sal. Deputado federal, foi cassado pelo golpe militar de 1964. Tendo recebido o título de cidadão do mundo, morreu no exílio, longe de seu país natal.

Até hoje, influencia intelectuais e artistas. "Ô, Josué, nunca vi / Tamanha desgraça / Quanto mais miséria tem / Mais urubu ameaça", escreveu, nos anos 90, o cantor pop pernambucano Chico Science. Em 2003, a Agência Brasil publicou a série especial "Nova Geografia da Fome", dos jornalistas Xico Sá e Ubirajara Dettmar, posteriormente lançada em livro.

O projeto Fome Zero, do governo federal, também se inspirou em propostas de Josué de Castro. Em seu programa Dez Pontos para Acabar com a Fome, ele sugere, como medida prioritária, o combate ao latifúndio.