Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania de São Paulo divulgou hoje (6) um relatório no qual são relatados casos de indícios de tráfico de pessoas deportadas e não admitidas que regressam da Europa para Brasil pelo aeroporto de Guarulhos. Foram estudados 242 casos nos meses de março e abril de 2005. O objetivo do trabalho foi detectar a presença de brasileiras envolvidas no tráfico internacional de pessoas para exploração sexual.
Segundo o sociólogo e chefe da Divisão de Estudos Sócio-econômicos da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), Renato Sérgio de Lima, a Europa foi escolhida como origem porque é um dos principais focos onde as investigações indicam a existência de tráfico de seres humanos para exploração sexual.
O número de mulheres impedidas de entrar nos países europeus chega a 76%, enquanto o de deportadas é de 22,3%. "Os países que mais ‘devolveram’ brasileiras foram Portugal (30,3%), Itália (17,7%), França (16%) e Espanha (11,4%), seguidos de Inglaterra (10,3%) e Alemanha (7,4%)".
No relatório, apresentado hoje durante o seminário A Mulher que Ninguém Vê: O Universo do Tráfico e da Deportação, 226 pessoas foram entrevistas, contudo, 175 casos foram considerados válidos. Entre os entrevistados 92,6% se autodeclararam mulheres, 5,1%, homens e 2,3% transgêneros. Cerca de 13,2% das pessoas têm mais de 40 anos, enquanto 37,1% estão entre 18 a 24 anos. A maioria (47,4%) tem entre 25 a 40 anos.
"As mulheres que afirmaram terem estado inseridas na indústria do sexo na Europa se concentram na casa dos 20 anos, mas duas estavam na faixa dos 30 anos. Já entre as transgêneros as idades se repartem entre os 20 e 30 anos", diz o relatório. A maioria saiu de Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo. "Entre os transgêneros há muito mais deportados do que não-admitidos." A pesquisa, segundo o sociólogo, serve para analisar "como essas pessoas são aceitas na sociedade européia, ao mesmo tempo que são vítimas de preconceito".
Cerca de 20% das entrevistadas afirmou ter feito o ensino fundamental. A renda da maioria está entre um e três salários mínimos. "Grande parte dessas pessoas trabalhava no Brasil como manicure, cabeleireira, no setor de serviços, comércio, saúde e educação, que buscavam progredir a partir da ida para a Europa. Muitas disseram que não foram para trabalharem com sexo".
De acordo com a pesquisa, ao serem questionadas sobre a compra das passagens, 46,9% das entrevistadas disse que viajou com recursos próprios e 46,3% afirmou ter recebido a passagem de alguém. "Em alguns casos percebemos que existem aí indícios de tráfico".
As entrevistadas que confirmaram terem ido à Europa para trabalhar na indústria do sexo relataram a existência de redes criminosas organizadas, com diversos estilos de intermediação em viagens de mulheres e dos transgêneros. "Algumas das entrevistadas disseram que pretendem voltar para a Europa o quanto antes, porque não conseguiram atingir seus objetivos de classe média e estão dispostas à realização de qualquer esforço para realizar outra viagem".