Taxas altas levarão bancos ao maior lucro dos últimos dez anos, prevê analista econômico

22/02/2006 - 18h33

André Deak
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Os sucessivos recordes de lucros, divulgados nos últimos dias pelos maiores bancos do país, contribuirão para que o setor tenha o maior crescimento dos últimos dez anos, estima o presidente da empresa de análise econômica Austin Rating, Erivaldo Rodrigues. Segundo ele, um dos principais motivos são as taxas cobradas pelos empréstimos bancários. "A média no Brasil é 29% [ao ano], enquanto nos outros países é 4%. Nos Estados Unidos é 3,5%, no Japão é 2,8%", afirma.

"O resultado dos bancos cresceu em média 44,5% em relação a 2004. Esse crescimento é recorde nos últimos dez anos. O resultado do Bradesco bateu todos os recordes, 80,2% superior ao ano passado", diz Rodrigues.

O analista econômico diz que, além dos altos juros básicos definidos pelo governo brasileiro (17,25% ao ano) serem altos, outros dois fatores, principalmente, contribuíram para os lucros recordes do setor. "A carteira de crédito também foi recorde, cresceu 21,5%. Aliado a isso, tivemos a manutenção dos spreads [diferença entre os juros pagos pelos bancos para captarem dinheiro e os juros que cobram para os empréstimos]. Essa diferença é recorde mundial."

Apesar do governo ter promovido uma redução da taxa básica de juros, "a mesma redução não se converte para o tomador final de crédito. O juro básico cai, mas o custo final não cai na mesma proporção", critica o analista.

O presidente da Austin Rating afirma ainda que, "tirando grandes empresas como Petrobras e Vale do Rio Doce, os outros setores têm rendimentos muito inferiores aos dos bancos, em torno de 14%, contra 30% dos bancos".

Em relação a outros países, Rodrigues explica que o lucro dos bancos brasileiros não é muito diferente em termos nominais – em valores –, "mas o retorno para o investidor no Brasil está em 30%, enquanto nos EUA, por exemplo, está em 10% ao ano. Mesmo nos países vizinhos a rentabilidade dos acionistas de bancos não é tão alta quanto no Brasil".