Sociólogo português defende que jovens assumam organização do Fórum Social Mundial

29/01/2006 - 8h44

André Deak
Enviado especial

Caracas (Venezuela) - "A geração que iniciou esse debate está cansada. Como não admitem, dizem que o formato se esgotou. Sugiro que gente jovem tome seu lugar". A proposta foi feita pelo sociólogo português Boaventura Souza Santos, no debate sobre a organização e as disputas de poder dentro das estruturas do Fórum Social Mundial (FSM). Durante o encontro na capital venezuelana surgiu a proposta de que o fórum talvez pudesse dar apoio a certos documentos e lutas e também ter alguma proximidade com governos - ações proibidas pela Carta de Princípios do FSM.

"Não é possível pensar o fórum com idéias velhas", disse Boaventura, depois de escutar sugestões de membros do Comitê Internacional do evento no sentido de modificar estruturas. "Em 2001 se discutia que o fórum não poderia acontecer na Universidade Católica de Porto Alegre, porque lá seria um ambiente elitista. E agora terminamos no Caracas Hilton!", observou. Esse, para ele, é um exemplo de que nem tudo o que se pleneja sai corretamente. Ocorrem desvios no caminho, mas é preciso corrigir os erros antes de mudar as regras.

Para Boaventura, o fórum é vítima de seu sucesso. "Agora não sabemos o que fazer, nem sabemos analisar o fórum globalmente. Temos que analisar Mali, analisar o Paquistão, onde ocorrem os outros fóruns, este ano dividido em três países e chamado "policêntrico", e eles têm que nos analisar. Aqui estamos preocupados com o governo, mas o fórum é maior do que isso".

Uma preocupação expressa por diversas pessoas que participam das atividades do fórum em Caracas é que tenha havido muita aproximação com o governo de Hugo Chávez. "Precisamos relativizar esses personagens", defendeu o sociólogo. "Homens grandes vêm e vão, mas os movimentos vão continuar. Há três anos, Lula iria salvar o mundo. Agora é Chávez ou Morales (presidente boliviano). Os políticos são muito impacientes, o processo do fórum não é assim", destacou.