Daniel Merli
Enviado especial
Caracas (Venezuela) - No dia-a-dia, quando se fala sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC) para ativistas, parece que se está falando de um ser abstrato. O desabafo é da geógrafa uruguaia Ana Domínguez, da organização ambiental Rede de Ecologia Social. No caso dela, o problema foi resolvido quando a OMC passou a discutir um tema relevante na história recente do Uruguai: a água. O país fez um plebiscito, no ano passado, que definiu os recursos hídricos como um bem público, que não pode ser privatizado.
Para Ana, porém, as discussões da OMC põem em pauta a garantia das empresas privadas de investir no setor de água. Essa contradição entre o que o povo escolheu nas urnas e o que está sendo discutido nas salas de reunião da OMC, segundo Ana, faz com que fique mais fácil mostrar os efeitos concretos das negociações.
Ana foi uma das painelistas do seminário Resistência Global contra a Rodada Doha, que se realizou na sexta-feira (27). A Rodada de Doha é uma série de discussões da OMC sobre livre comércio, iniciada em 2001, que está marcada para terminar este ano.
A militante uruguaia também citou o caso da vizinha Argentina, cujo governo sofre seis processos movidos por empresas privadas, uma delas, do setor de água, todos contra as alterações nos contratos de privatização.
Segundo Ana, as discussões da OMC sobre o comércio de água vão em sentido contrário às reivindicações dos movimentos sociais. "Queremos que a água seja um bem público de acesso universal, não uma mercadoria. Queremos a administração participativa dos serviços de água e não sua concentração nas mãos de uma empresa".