Eduardo Mamcasz
Repórter da Rádio Nacional
Brasília - A compra de 80% da produção de soja brasileira por um pequeno grupo de tradings internacionais é uma das causas que afetam preços e rentabilidade do setor, que continuará tendo, neste ano, um "patamar de rentabilidade bastante baixo". A informação foi dada à Rádio Nacional, dentro da série "Soja - um grande negócio", pelo chefe do Departamento de Assuntos Internacionais e Comércio Exterior da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antonio Donizeti Beraldo.
Segundo o dirigente, o produtor rural brasileiro se defronta hoje com a "excessiva concentração" tanto na hora da venda de sua produção quanto na compra de insumos agrícolas, quando o número de empresas também é pequeno. Donizeti lembrou que isto acontece em vários países,como Estados Unidos e Austrália, onde passou a ser uma "preocupação de governo" e estão sendo implementadas políticas públicas para evitar uma "excessiva concentração que afete demasiadamente a renda do produtor rural’.
No caso do Brasil, o chefe do departamento internacional da CNA afirmou que é preciso reforçar os "organismos de defesa da concorrência" já existentes mas que as entidades de classe também devem ficar atentas para a questão. Ele advertiu que elas devem denunciar aos "mecanismos competentes, que teriam que ser mais ágeis na avaliação e na imposição de penalidades" sempre que houver alguma "configuração de prática desleal de comércio, uma fixação de preços, cartel, etc".
Antonio Donizeti também cita outro agravante na diminuição do preço da soja, que é o aumento de oferta do produto no mercado mundial. Ela prevê que neste ano os Estados Unidos vão colher 84 milhões de toneladas de soja, seguidos pelo Brasil, com 58 milhões. Ele considera essas boas colheitas de soja como mais um "fator baixista dos preços" que, segundo ele, "minimamente cobrem os custos de produção". Ele lembrou que isso acontece mesmo com os produtores brasileiros de soja estando mais cautelosos, tanto que nesta safra reduziram a área plantada em 6%.
Quanto aos preços da soja no mercado internacional, que na safra passada cairam 30%, o dirigente da CNA lamenta que, neste ano, eles continuarão no mesmo patamar baixo. Ainda assim, ele acredita que a soja continua sendo o "carro-chefe das exportações brasileiras", rendendo US$ 9,5 bilhões ao ano, seguida pela carne, com US$8 bilhões. No caso da soja, Donizeti elogia a opção do produtor pela transgênica que, segundo ele,"reduz os custos em até 15%". A estimativa é que metade da próxima colheita seja somente de soja transgênica. O assunto é o tema do rádio-documentário que a Rádio Nacional transmite amanhã (20).