Lílian de Macedo e Bianca Paiva
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – Excesso de população em pequenos territórios. Na avaliação do analista pericial em Antropologia do Ministério Publico Federal em Dourados (MS), Marcos Ferreira Lima, essa é a situação perfeita para a eclosão de conflitos indígenas, que, segundo ele, é o principal problema da região de Mato Grosso do Sul.
"O número de índios mortos por causa de violência deveria incluir tanto a mortalidade infantil como as mortalidades geradas por conflitos entre índios e índios e pelos conflitos ligados a questões fundiárias, que seria a violência com proprietários rurais", analisa Lima, acrescentando que, em todos esses casos, a questão fundiária continua sendo a principal razão para as mortes. "Os índios estão concentrados em pequenas reservas e em áreas concentradas. Nesta situação, os pais enfrentam uma extrema dificuldade de suprir as necessidades alimentares de seus filhos, o que muitas vezes leva à mortalidade infantil por fome, diarréia ou por água contaminada", acentua.
Ele ressalta que o excesso de população em pequenos territórios também aumenta o conflito entre as etnias. "Se você tem uma briga com o vizinho e não pode mudar de lugar porque esse espaço é diminuto, o mecanismo de negociação de conflito acaba não existindo", afirma.
De acordo com Lima, ao ficarem restritos em pequenas reservas, os índios acabam por reivindicar o direito que lhes é concedido pela Constituição Federal, que é o direito às terras tradicionalmente ocupadas. "Quando fazem isso, eles acabam entrando em conflito com o poder local", diz.
No ano passado, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) registrou o assassinato de 38 indígenas no país – a maior parte dos casos, ocorreu no Mato Grosso do Sul. De acordo com a entidade, esse é o maior número de vítimas desde 1994, quando 45 indígenas foram mortos no país.