Para Maierovitch, eleição de líder indígena traz esperança para a Bolívia

20/12/2005 - 11h56

Danielle Coimbra
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A vitória do líder indígena Evo Morales na eleição presidencial da Bolívia, no último domingo (18), representa uma esperança para os bolivianos, avalia o juiz aposentado Walter Maierovitch, ex-secretário Nacional Antidrogas.

Em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia, Maierovitch, que é presidente do Instituto Giovanni Falcone e especialista em combate ao crime organizado, cerca de 59% da população boliviana é composta por indígenas e 30% por mestiços. "Até agora a Bolívia sempre foi governada por brancos e houve a necessidade e esperança de mudança para que a maioria seja efetivamente representada", disse.

Maierovitch disse ainda que Morales tem a intenção de promover a legalização da área de cultivo de coca localizada na província de Chapari. Hoje a área é considerada como de cultivo ilegal. "Evo Morales começou sua vida política no Chapari, mas sempre com uma distinção, já que a coca é um símbolo de identificação cultural da Bolívia. A mascagem da folha é necessária nas regiões mais altas para que a população consiga vencer o problema da falta de oxigênio e do frio", afirmou.

O especialista explicou que a proibição do cultivo da coca aconteceu em 1961, por pressão dos norte-americanos, que equiparavam sua folha com a cocaína. "Morales colocava que a guerra contra as drogas, que é a bandeira norte americana, na verdade é um instrumento de intervenção".

Maierovitch reconheceu que o uso da coca do Chapari para a fabricação de cocaína existe: "Na região do Chapari, o cultivo não é permitido, mas é uma realidade. Lá estão mais de 12 mil hectares. Dizer que não existe tráfico na Bolívia é uma mentira, porque lá está a matéria prima para a elaboração da pasta básica e do cloridrato de cocaína".

O especialista reafirmou a esperança no líder indígena. "Há grande esperança no sentido do nacionalismo de que ele é imbuído, um homem que não tem nenhum rastro de corrupção, nenhuma mancha, nenhuma marca".

Evo Morales, candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), foi eleito no último domingo (18) o novo presidente da Bolívia com cerca de 51% dos votos dos três milhões de eleitores. Ele deverá assumir o posto no dia 22 de janeiro.