Mylena Fiori
Enviada especial
Hong Kong (China) - O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, mandou um recado duro e objetivo às nações desenvolvidas na manhã de hoje (14), em Hong Kong. "Os países pobres não podem esperar por mais vinte anos para uma verdadeira reforma no comércio agrícola. A hora de agir é agora", discursou Amorim em sessão plenária da 6ª Reunião Ministerial da Organização Mundial do Comércio, que acontece até o dia 18 deste mês, na China.
Amorim foi ainda mais enfático com relação à proposta da União Européia, que oferece acesso a mercados para produtos agrícolas dos países em desenvolvimento em troca de cortes nas tarifas de bens industriais. "Os países ricos não podem esperar pagamento por fazerem algo que já deviam ter feito há muito tempo. Depois de tantos anos – eu diria décadas ou séculos – resquícios do feudalismo persistem lado a lado com outras formas inaceitáveis de privilégio", afirmou Amorim.
Temas como segurança alimentar e desenvolvimento do meio rural também foram mencionados pelo chanceler. Segundo Amorim, tais sensibilidades devem ser consideradas para que não se transformem em impedimento para os avanços desejados no comércio de bens agrícolas.
A agricultura não é o único tema da atual rodada de negociações, reconheceu o ministro brasileiro, em resposta às críticas de que os países em desenvolvimento não querem tratar de outras questões. Mas fez questão de lembrar que o mandato da Rodada Doha, lançada como rodada do desenvolvimento, reconhece a existência de diferentes necessidades e responsabilidades e isto, segundo Amorim, deve ser traduzido em proporcionalidade de compromissos entre agricultura e outras negociações de acesso a mercados, como serviços e bens industriais. "As grandes economias não podem esperar mais concessões dos países em desenvolvimento do que aquelas que estão dispostos a oferecer", disse. "Isto simplesmente não vai acontecer", enfatizou.
Por fim, o ministro fez um apelo aos representantes de 149 países presentes na conferencia: "Não podemos correr o risco de vermos a Rodada Doha fracassar por falta de ação ou de visão. Sua dimensão de desenvolvimento alimentou esperanças e expectativas nos países em desenvolvimento, grandes e pequenos. Não nos deixem perder esta oportunidade de promover o desenvolvimento."