Mylena Fiori
Enviada especial
Hong Kong (China) - O comissário europeu para o comércio, Peter Mandelson, exigiu hoje (14) que as negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) não fiquem restritas à discussão sobre agricultura. A União Européia vem exigindo que, em troca da abertura de seu mercado agrícola, os países em desenvolvimento reduzam tarifa para importação de produtos industriais.
Já o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, insistiu, em suas entrevistas durante a 6ª Reunião Ministerial da OMC que "a agricultura é o motor da Rodada Doha" – série de negociações comerciais iniciada em 2001. A rodada deveria ser concluída esta semana, na reunião em Hong Kong, mas a direção da OMC já admite que isso não deve ocorrer.
Em entrevista hoje, segundo dia da 6 ª Conferência, o comissário europeu defendeu a posição dos países desenvolvidos. "Todos aqui têm que ser capazes de voltar para seus países dizendo que evoluímos em relação aos países em desenvolvimento, mas também que evoluímos em nossos interesses. Em bens industriais, por exemplo", afirmou Mandelson.
O representante europeu considera que um dos obstáculos da rodada de negociações é a falta de ofertas. "Há pouca coisa sobre a mesa. Uma rodada precisa mais do que propostas em agricultura", disse. O G20 – grupo de 21 países em desenvolvimento liderado pelo Brasil e pela Índia – pede um corte de 54% nas tarifas européias, mas a oferta apresentada em outubro e mantida é de redução de 39%, excluindo-se da regra geral praticamente todos os produtos em que os países em desenvolvimento são competitivos.
Peter Mandelson reconheceu que a agricultura é uma parte importante da rodada, "mas não a única", e reafirmou que o estímulo ao comércio envolve, também, acesso a mercado para bens não-agrícolas. "A menos que tenhamos avanços noutras áreas, toda a negociação continuará imobilizada", advertiu.
O comissário europeu defendeu o chamado pacote de desenvolvimento, em fase de negociação, que propõe abertura total de mercado aos produtos de países de menor desenvolvimento relativo (com renda per capita inferior a US$ 750). Enfatizou, porém, sem citar nomes, que há resistências e discordâncias entre certos membros da OMC sobre o acesso livre de tarifas e cotas para determinados produtos.