Brasília, 12/12/2005 (Agência Brasil - ABr) - Os prognósticos para a 6ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) são negativos, na opinião do diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Alcides Costa Vaz. Para ele, nos termos em que estão as negociações anteriores à reunião, é possível que a Rodada Doha termine como um fracasso.
A reunião ministerial, que se realizará em Hong Kong a partir de amanhã (13), deveria ser a última etapa da Rodada Doha, iniciada em 2001 na capital do Catar. O objetivo dos países integrantes da OMC, com esta rodada, é rever a questão dos subsídios agrícolas oferecidos por países desenvolvidos a seus agricultores e a das subvenções pagas como estímulo à exportação.
Países emergentes como o Brasil, que integram o Grupo dos 20 (G 20), pedem redução dos subsídios agrícolas e melhores condições de acesso aos mercados internacionais, mediante redução de tarifas. Na opinião do professor, apesar de os Estados Unidos terem acenado com um possível corte nas subvenções – o que poderia resultar em redução de subsídios agrícolas, no entendimento da diplomacia brasileira –, a liberalização não será efetivada por parte dos Estados Unidos ou da União Européia.
"As últimas decisões do governo Bush não significam, na prática, uma liberalização. Além disso, a disposição de negociar da União Européia é pequena. Penso que só haverá algum avanço se os países do G 20 promoverem uma mudança grande em suas posições", analisou o especialista. Para Vaz, essa mudança significaria os países emergentes concederem mais em áreas como a de serviços ou compras do setor público, ou ainda na redução de tarifas do setor industrial.
Vaz justifica seu pessimismo com o próprio histórico da Rodada Doha: "Ao longo de toda essa rodada não houve avanço. Vale lembrar que, em Cancun, onde se deu a primeira revisão da rodada, instalou-se o impasse que há hoje entre os emergentes e os mais desenvolvidos, como União Européia e Estados Unidos". Em Cancun, por exemplo, ficou acertada a redução escalonada de subsídios, mas o acordo não foi implementado. Os subsídios dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), registra Vaz, são estimados em US$ 1 bilhão diários.
Para o professor, o setor agrícola é sempre a área onde o impasse se apresenta de forma mais complicada, porque interessa aos países desenvolvidos – que desovam seus produtos com uma falsa competitividade (o preço termina sendo menor porque os agricultores recebem subsídios) – e também ao emergentes com produção em excesso para exportar. Vaz enfatiza que é preciso haver consenso em todas áreas para que a negociação avance. "A agenda é ampla e há muitos pontos a serem discutidos", observou.