Ex-funcionário do Rural diz-se surpreso por BC não suspeitar de operações com Valério e PT

08/12/2005 - 15h33

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O ex-superintendente do Banco Rural Carlos Godinho disse hoje aos parlamentares da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios que havia dissonância entre o rigor dos técnicos do Banco Central na fiscalização dos documentos do banco e a apresentação desses dados em relatórios posteriores.

Segundo Godinho, os empréstimos concedidos às empresas de Marcos Valério e ao PT eram "atípicos", com garantias fracas, mas, mesmo assim, foram renovados diversas vezes, para sua surpresa. "A fiscalização realizada pelos técnicos do Banco Central, em Belo Horizonte, é muito rigorosa. O que me surpreendeu foi o resultado", afirmou.

O Banco Central realizou fiscalizações no Banco Rural de setembro de 2004 a janeiro de 2005.
Em agosto deste ano, segundo Godinho, foi apresentado um relatório que não apontava qualquer irregularidade nas operações de empréstimos ao PT e ao empresário Marcos Valério. "Eles tinham condições de saber", afirmou o ex-superintendente aos deputados e senadores da CPMI.

Para o deputado Maurício Rands (PT-PE), o depoimento de Godinho na CPMI não acrescentou novas informações ao que ele já tinha declarado à revista Época. Especificamente sobre a atuação do Banco Central na fiscalização do Banco Rural, Rands disse que o importante, agora, é analisar todos os documentos que estão disponíveis na comissão. "Se for necessário, vamos fazer alguma convocação", acrescentou o parlamentar.

O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) considera fundamental a prestação de contas do Banco Central sobre as possíveis irregularidades cometidas pelo Banco Rural nas operações de empréstimos a Marcos Valério e ao PT. Ele não descarta a possibilidade de uma acareação entre Carlos Godinho e a presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) não considera relevante a convocação de autoridades do Banco Central para explicarem por que o risco das operações não foi citado no relatório de agosto. Segundo ele, as informações de Godinho "serviram para mostrar que o empréstimo era simulado".

O parlamentar também considerou importante a declaração de Godinho de que participou de uma reunião, em São Paulo, com representantes do Banco Rural, do Banco de Minas Gerais (BMG) e de fundos de pensão para a criação de um Banco dos Trabalhadores, que atuaria com crédito consignado. Segundo ele, isso pode ser um índicio de "tráfico de influência", uma vez que Marcos Valério atuava junto ao Banco Central com essa demanda.