Coordenadora do Ibase afirma que pobres se sentem invisíveis socialmente

08/12/2005 - 6h59

Adriana Franzin
Da Agência Brasil

Brasília - A coordenadora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Fernanda Carvalho, afirmou, no programa Diálogo Brasil, que os pobres se sentem "invisíveis" socialmente. "Eles ocupam um espaço na sociedade, mas não são vistos pelos outros grupos, principalmente pelos mais ricos".

Segundo ela, a falta de convivência das crianças pobres com as de outras classes sociais foi agravada pela perda da qualidade da escola pública. "Para essas crianças (ricas) não existe a presença do negro, ou do pobre". No estúdio da TVE Brasil, no Rio de Janeiro, a coordenadora disse que saúde e educação são bons indicadores de desenvolvimento social. "Nós ainda somos campeões da desigualdade. É muito estranho que estejamos tão empolgados com isso", acrescentou.

No estúdio da TV Cultura, em São Paulo, o professor Cassiano Ricardo Martines Bovo, do Núcleo de Estudos sobre a Pobreza da Faculdade São Luís, disse que as mudanças estruturais demandam tempo. Para ele, outros indicadores também poderiam ser incluídos nas pesquisas de pobreza. "O lazer, a saúde, a educação, são fundamentais e deveriam ser levados em consideração, além da renda". Ele concordou com a afirmação da coordenadora: "O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo. Essas reduções de desigualdades são pequenas para um país desse tamanho".

Em Brasília, no estúdio da TV Nacional, o professor Marcelo Néri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e coordenador da pesquisa Miséria em Queda - Mensuração, Monitoramento e Metas destacou que os mais pobres tiveram um crescimento maior que os mais ricos. "A miséria vem caindo nos últimos 12 anos, e eu acho que essa não é uma obra só desse governo, mas também de governos anteriores".

Para ele, a pobreza é um fenômeno multidimensional e tem que ser tratada como tal. "No Brasil falta uma mudança da distribuição de riqueza, a de renda já aconteceu muitas vezes", salientou. Néri ressaltou que falta uma igualdade de oportunidades. "A gente tem um dado novo, uma redução forte, fora do ano eleitoral, mas é cedo para dizer que há uma queda de pobreza sustentável, só o tempo vai dizer".

Também no estúdio da TV Nacional, a secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, disse que o governo tem o dever de devolver a sociedade o que arrecada. Segundo a secretária, a maior concentração dos recursos do ministério está nas regiões Norte e Nordeste, "não só na transferência de renda, mas com políticas de inclusão produtiva, construção de 114 mil cisternas, programas do leite e inúmeras iniciativas, neste sentido".

Os debates do Diálogo Brasil são mediados pelo jornalista Florestan Fernandes Júnior. O programa é transmitido ao vivo para todo país, sempre às quartas-feiras, das 22h30 às 23h30. Os telespectadores podem participar enviando perguntas e sugestões pelo e-mail dialogobrasil@radiobras.gov.br e pelo telefone (61) 3327-4210.