Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi citado hoje no depoimento do empresário paulista José Roberto Conalghi à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos. De acordo com o empresário, já no ministério, Palocci viajou, gratuitamente, por duas vezes em sua aeronave. O avião é apontado pela revista Veja como o mesmo utilizado por Vladimir Poleto (ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto) para levar caixas de uísque com dólares destinados à campanha eleitoral do PT em 2002.
De acordo com Conalghi, nas duas ocasiões em que o ministro Palocci teria viajado na aeronave, o transporte aconteceu a pedido de Ralf Barquete (morto há um ano), outro ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto. "Uma das vezes, dei carona ao ministro e ao ex-presidente do PT, José Genoíno. Saímos de Brasília e fomos para Ribeirão Preto. De lá, no mesmo dia, o ministro voltou para Brasília e eu segui para Penápolis (SP)", contou Conalghi, que atua no setor de materiais de construção, máquinas e exportações.
Durante a campanha eleitoral de 2002, o empresário disse aos parlamentares da CPI dos Bingos que trasportou Palocci, Genoino e o ex-deputado José Dirceu pelo menos uma vez cada um. Conalghi é filiado ao PFL. Na última campanha para prefeitura de Penapolis, ele contribuiu oficialmente com R$ 40 mil para o candidato do PFL e com R$ 10 mil para o candidato do PT.
"Em cidade pequena, não tem essa história de partido, é todo mundo conhecido", argumentou Conalghi, que admitiu ter transportado políticos de outros partidos em seu avião. "Cedi a aeronave para os deputado [Antônio Carlos] Mendes Thame e Júlio Semeghini [ambos do PSDB de São Paulo]. Mas, na época da campanha de 2002, quem mais viajou foi o PT."
O líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), chegou a perguntar se o empresário conseguiu vantagens com as viagens de "cortesia". Agripino citou denúncias de que Conalghi teria expandido os negócios em Angola, na África, com apoio do governo federal. O empresário negou qualquer favorecimento. De acordo com ele, o bom entendimento entre os dois países tem ajudado nas exportações, mas os negócios melhoraram em razão das necessidades do país africano após o término da guerra.
"Nossas exportações de caminhões e assessórios estão sendo incentivadas por cartas de crédito de Angola, um país em reconstrução. O ministro Palocci nunca fez intervenção a meu favor. A exportação foi na raça, no nosso esforço", diz Conalghi. O empresário afirma que em 2002 exportou entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões em produtos para Angola. Em 2004, esse montante chegou a R$ 60 milhões. O mesmo valor deve se repetir este ano.