Deputado Josias diz que recebeu dinheiro a pedido de Delúbio para pagar dívidas de campanha

06/12/2005 - 18h59

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O deputado federal Josias Gomes, (PT-BA) disse hoje (6) que recebeu dinheiro como repasse de verba de seu partido para pagar dívidas de campanha eleitoral em 2002. Os depósitos, segundo ele, foram ordenados pelo então tesoureiro da legenda, Delúbio Soares, quando Josias era presidente do diretório estadual do partido na Bahia.

Josias prestou depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, que julga um pedido de cassacação contra ele. O deputado foi incluído no relatório parcial das comissões parlamentares mistas de inquérito (CPMI) dos Correios e da Compra de Votos, por aparecer como um dos sacadores de recursos do empresário Marcos Valério de Souza. "Eu não tinha o menor conhecimento de quem era esse cidadão. Nunca fiz nenhuma transação comercial come ele", disse o deputado, que cumpre seu primeiro mandato.

Josias teria recebido R$ 50 mil da empresa SMP&B por meio de um saque na sede do Banco Rural em Brasília. O deputado disse ter ficado "chocado" ao saber que seu nome havia sido incluído na lista com o nome daqueles que receberam dinheiro do empresário mineiro. "Eu fiquei perplexo em um primeiro momento e depois aborrecido".

Segundo ele, o recurso era parte dos R$ 100 mil que teria sido repassado por Delúbio, a pedido dele, para pagamento da dívida da campanha de três deputados que concorreram a eleições estaduais na Bahia, em 2002. De acordo com Josias Gomes, a primeira parte dos R$ 100 mil foi recebida na sede do PT em Brasília e a outra metade, sacada na sede do Banco Rural, também em Brasília. "O Delúbio me ligou e disse para eu ir ao PT pegar os R$ 50 mil e disse que me ligaria depois para dizer como eu deveria proceder".

A afirmação de Josias sobre o desconhecimento da origem do dinheiro foi desmentida pelo relator do Conselho de Ética, deputado Mendes Thame (PSDB-SP), que apresentou um documento interno do Banco Rural, de 2003, assinado por Josias Gomes em que ele é autorizado pela SMP&B a receber os R$ 50 mil. O deputado disse que já pediu à Polícia Federal a realização de uma perícia para confirmar a autenticidade da assinatura.

Josias Gomes garantiu que transferiu todo o dinheiro recebido de Delúbio a três candidatos endividados. Ele autorizou que seus sigilos bancário e financeiro sejam quebrados pelo Conselho de Ética. Ao ser questionado pelo deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) sobre a existência de registros de recebimento desse dinheiro, Josias Gomes informou que não há qualquer documento sobre o dinheiro recebido por ele na sede do PT em Brasília. Já sobre os R$ 50 mil, sacados no Banco Rural, Gomes teria registrado o saque do dinheiro com uma assinatura na cópia da carteira parlamentar.

"A dúvida é se no momento que ele recebeu ele notou que se tratava de um recurso encaminhado pela SMP&B, porque ele assinou. Se ele assinou sem notar que estava vindo desse empresa de publicidade e não do PT. Ou se ele não notou. É a única dúvida, já que o documento assinado por ele é da SMP&B", disse o relator.

O relator do Conselho de Ética afirmou que a situação do deputado é muito delicada. "Ele não contestou em nenhum momento o recebimento do recurso, portanto, todas as suas alegações são atenuantes".O deputado federal Josias Gomes ainda tem cinco sessões para complementar a sua defesa.