Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio - A localização de lixões e matadouros clandestinos no entorno dos aeroportos favorece os acidentes entre aeronaves e pássaros no Brasil. A informação é do presidente da Comissão de Controle de Perigo Aviário no Brasil, major aviador Flávio Coimbra. Para ele, só com um esforço conjunto da sociedade, governos locais e autoridades do setor de aviação será possível reduzir o número de acidentes.
Segundo Coimbra, os acidentes no Brasil têm características diferentes dos que acontecem em países da Europa, por exemplo. "No Brasil, diferente da Europa, as aves migratórias, causadoras de acidentes que fogem do controle humano, não são comuns. A questão aqui depende da conscientização da sociedade. As atividades clandestinas, próximas aos aeroportos, atraem principalmente urubus e trazem riscos à vida de inúmeras pessoas", explicou.
Para identificar os riscos de acidentes e traçar estratégias para solucionar o problema no Brasil e no exterior, especialistas de 23 países se reúnem de hoje (29) até sexta-feira (2), no Rio de Janeiro, durante a 3º Conferência Internacional de Prevenção de Perigo Aviário e Fauna.
O capitão aviador Glauco Ferius, que participa do evento, perdeu a visão em conseqüência de um acidente que sofreu em 1998. Ele era instrutor de vôo e, durante um treinamento, um urubu atingiu o avião da Força Aérea Brasileira pilotado por seu aluno. Ferius defende que a legislação brasileira puna os responsáveis por atividades irregulares próximas aos aeroportos.
"Os pássaros não podem parar de voar e a aviação também não pode parar suas atividades. O que deve existir são medidas efetivas que aumentem a segurança. A legislação brasileira prevê multa e prisão para quem desmata ou polui. Para quem abre um matadouro numa área de aeródromo, atraindo urubus, não tem punição", disse Ferius.
Uma Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) criou em 1995 a Área de Segurança Aeroportuária (ASA), raios específicos em torno de cada aeroporto brasileiro, dentro dos quais não pode haver atividades que atraiam aves. Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei, que define sanções para quem descumprir os limites estabelecidos na Resolução do Conama.
Nos últimos cinco anos foram registradas 1.386 colisões nos principais aeroportos brasileiros. As empresas aéreas estimam que, em 2004, os acidentes tenham gerado gastos de US$ 7 milhões.