Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Sociedade e parlamentares se encontraram hoje (22) para discutir a ética na política e a punição de todos os envolvidos nos crimes que estão em apuração nas comissões parlamentares de inquérito. O objetivo é unir os trabalhos do movimento Da Indignação à Ação, composto por entidades da sociedade civil e do Ministério Público, e do grupo suprapartidário de parlamentares Pró-Congresso em Defesa da Ética.
Os dois movimentos foram criados este ano após as denúncias e escândalo de corrupção. Quase 160 parlamentares de oito partidos (PSB, PFL, PTB, PT, PV, PSDB, PPS e PDT) formam o grupo suprapartidário Pró-Congresso, criado em agosto, com a finalidade de resgatar a imagem do Legislativo. Entre os temas discutidos pelo grupo estão a crise política, decisão do Supremo Tribunal Federal que suspendeu processos contra parlamentares, o andamento dos trabalhos e os principais problemas enfrentados pelas comissões parlamentares mistas de inquérito (CPMIs) dos Correios e da Compra de Votos.
O advogado e ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior e o presidente da Comissão Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Chico Whitaker, são alguns dos integrantes do movimento Da Indignação à Ação. Um possível pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos assuntos tratados na reunião. "Isso não deve partir de nenhum partido político, só pode vir se partir da sociedade. Esta reunião hoje é para ouvir a sociedade e os relatores das CPIs", diz o deputado Rafael Guerra (PSDB-MG).
Para o deputado, "há indícios e motivos para um impeachment". Segundo o deputado, as denúncias "são sistêmicas, é aparelhamento do governo e a utilização da máquina pública é clara". E fatos "que a gente não imaginava que pudesse acontecer, aconteceram como dólar na cueca, nota fria tirada pela Casa Civil da Presidência da República para justificar gasto com cartão de crédito e saques em dinheiro e pagamento de contas em dólar em paraíso fiscal de contas de campanha".
Mas, para Reale, ministro da Justiça durante o governo Fernando Henrique, ainda é cedo para fazer um pedido de impeachment. Ele defende que um estudo seja realizado em paralelo ao trabalho das comissões parlamentares mistas de inquérito. "Trago a proposta de uma avaliação das provas para também focalizar o presidente da República e proponho que se faça este estudo ao término das CPIs ou após elas terem evoluído suficientemente na coleta desses elementos", diz.
Reale diz que dois meses são suficientes para que os elementos sejam analisados e que isso deve ser feito por meio de auditorias externas. "Precisam ser analisados dados telefônicos, contas externas e todas as transferências feitas porque o dinheiro passava por várias contas até chegar ao empresário Marcos Valério [de Souza]", conta.
Na avaliação de Reale, as denúncias hoje são "mais graves", que as ocorridas no governo de Fernando Collor de Mello. "É muito diferente. No Collor era um fato isolado de uma quadrilha que fez uma extorsão, não houve um comprometimento das relações institucionais, que ocorre hoje com o executivo, os partidos políticos e suas bases dentro do Congresso, isso faz com que haja uma descrença na democracia".